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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Então é Natal

Desejo que todas as famílias, em todos os cantos do mundo, passem uma noite de Natal com muita paz e alegria. Que consigam desacelerar suas mentes, aquecer seus corações, lembrando o quanto nos aconchega estarmos juntos e agradecendo pela oportunidade de estarmos vivos, celebrando esta festa. Que cresça o amor em cada de um de nós!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Fim de ano

Faz tempo que eu não escrevo. Novembro foi um mês conturbado, como deve ser conturbado para muita gente, já que se aproxima o final de ano. O final de ano traz inúmeras preocupações, reflexões, intenções. São propósitos de mudar de hábitos, de realizar coisas, de buscar melhorar. É tempo de compras, e os shoppings estão lotados. A cidade intransitável. A sensação que tenho é que todos são tomados pelo espírito natalino de uma forma coletiva. É como se o espírito coletivo se agitasse e ninguém conseguisse tocar suas vidas no mesmo ritmo de outubro. É décimo terceiro que se aproxima, férias infantis que excitam pais e filhos, luzes de Natal que comovem, comércio que entra em fase promissora, pessoas felizes falando de assuntos felizes, almoços corporativos mais longos, confraternizações que lotam agendas, papais noéis de todo tipo por aí (gordo, magro, mais velho, mais novo, com óculos, sem óculos), estacionamentos com filas. E pessoas e famílias de uma diversidade espantosa circulando pelas ruas e comprando, conversando, falando, gesticulando, se comunicando, vivendo, sentindo; e eu observando como, dentro desse coletivo urbano vivo, existem individualidades tão diversas, de uma riqueza humana indescritível.

É a moça de saia amarela e blusa preta de bolinhas, cabelo cacheado, olhos pretos, bem morena, pernas fortes, que segura um menino pequeno e magro pelas mãos, andando apressada pelo shopping e fazendo um discurso fervoroso dirigido a ele, que chora. Passa por mim e eu ouço: "assim você vai ser expulso da escola!". São duas vidas, uma delas frequenta um colégio, viveu algo de importante, ouve um comentário nervoso sobre o ocorrido, passam por mim (obviamente sem ter a menor ideia de que os escuto) e continuam sua história, em algum lugar do mundo.

É o casal animado que aborda um estranho e pede uma foto (nos moldes antigos, eles não tiram uma selfie!! -- acho interessante) em frente à árvore de Natal do shopping. Eles estão felizes, sorriem felizes, abraçados, para o flash, agradecem a gentileza e vão conferir juntos, na câmera (não, não era um celular!) o resultado. Eles gostam, trocam um beijo. E suas vidas continuam por aí, na medida em que deixam o lugar rumo à garagem. Nada de moderno, eu penso, alegria por uma fotografia de Canon em frente à árvore singela -- felicidade simples, a verdadeira.

É o senhor sem cabelo, de barriga avantajada (enorme, na verdade), redonda, camisa branca meio aberta nos botões, de bolso, calça preta em pernas relativamente finas, tênis branco, que caminha devagar, sério, sozinho. Colesterol, diabetes, sangue que corre em veias, um coração que pulsa na minha frente, e surge em mim o pensamento sobre a saúde deste homem (alguém olha para ele sem, imediatamente, pensar na sua saúde??). Ele segue. Eu jamais saberei o destino deste ser humano, mas ele fez parte da minha vida, estou com ele em mente agora e, certamente, vou lembrar ainda por vezes.

É um grupo de moças que espera sua vez na fila do caixa de uma loja de chocolates; são quatro, três altas e uma bem baixinha; as três mais altas conversam animadas, riem, gesticulam; a baixinha só escuta, de cara fechada, às vezes olha para o chão, olhar perdido, olha para o moço do caixa tentando descobrir o porquê da demora da fila, não parece confortável na situação. O problema que a perturba, qual será? É uma mente a mais ali, na multidão, mas é única, porque eu gostaria de entendê-la, estudá-la, saber dela. Eu nunca vou saber, mas espero que a moça baixinha tenha uma vida boa e não desejo que esteja insatisfeita com ela.  

Quantos corações, quantas mentes passam por mim, por quantas eu passo. São tantos assuntos, tantas ideias, tantas vidas, tantos olhares, tantas almas. Todos juntos formando um só universo coletivo e, ao mesmo tempo, cada um vivendo por si, complemente só em suas individualidades. Sem dúvida se buscam, numa tentativa de se complementarem, se somarem. Mas cada um vai viver o seu Natal e a sua virada de ano com seus planos e expectativas, e quão diferentes umas das outras devem elas ser...

Viva o milagre da existência, o mistério do universo, os segredos que tentamos desvendar, os sorrisos alheios, a energia que trocamos, a realização de pequenas conquistas, os pequenos passos que levam a grandes conquistas. Viva o pessimista que aprende a ser otimista, viva a liberdade de se escolher caminhos, a responsabilidade pelas consequências e a satisfação de saber que tanto a liberdade quanto a responsabilidade é nossa. Viva o momento em que percebemos que não somos culpados pela desgraça do mundo, que não temos como ajudar quem não se ajuda, que a nossa capacidade de fazer alguém feliz tem limites, a gente querendo ou não. Viva a noção de que a vida é curta, e que a fazemos ao vivo, de que palavras não se apagam, de que temos o poder de afastar pessoas queridas e acabar com relacionamentos com nossos próprios atos, de que a toda reação corresponde uma ação prévia. Viva a diversidade e a capacidade de se conviver com ela. Viva cada momento em que saímos da zona de conforto em busca do melhor para nós mesmos. Viva o ano que se aproxima, e a chance que temos de começar tudo de novo, num novo bloco de 365 dias, para fazermos e sermos diferentes, ou para fazermos igual aquilo que deu certo. Viva também esse instante e a oportunidade de viver com calma o "aqui e o agora", a cada minuto, ao vivo, dando de nós o melhor a quem mais importa, nós mesmos. Viva a capacidade de se entender como o altruísmo pode  alimentar nossas almas. Viva o futuro, o caminho, a estrada, o processo. Por fim, viva a nossa vida e o momento em que a noção do que é a verdadeira felicidade e paz de espírito clica em cada um porque, nesse instante, estarmos por aqui, todos juntos, começa a fazer sentido. 




quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sem glúten/sem lactose


Enquanto não faço meu Imupro (sobre que falei neste post de outubro) sigo no "sem glúten/sem lactose". Na realidade, não é um sem glúten/sem lactose ortodoxo, já que dou algumas escapadas. Mas na maior parte do tempo, tenho feito opções sem esses itens.

O Imupro vai ser bom porque vou ter certeza de quais alimentos excluir.  Acho que desinchei desde que tirei o glúten e a lactose, mas me sinto meio que "maria vai com as outras" expulsando os pobrezinhos da minha vida sem provas cabais de que eles são vilões para o meu corpo. Além disso, pode ser que existam outros alimentos que me façam mal, como o café por exemplo, que apareceu no exame do meu filho (intolerância grau máximo no caso dele), e que eu tomo bastante (meu vício).
Por enquanto, estou procurando consumir as comidinhas deliciosas do Detox Market, que já encomendei por diversas semanas consecutivas, e opções gostosas do Mundo Verde.

Quero FOCAR de novo na alimentação. Recomeçar meu diário alimentar e fixar o hábito de comer de três em três horas, e em menor quantidade à noite. Para isso, espero contar com a ajuda do livro "O Poder do Hábito", de Charles Duhigg; ainda não comecei a ler; vou iniciar a leitura em breve, tentando adaptar meus hábitos do meu jeito. Acho que posso pensar nisso até que saia o resultado do meu Imupro. Amanhã recomeço com um Detox Day baseado em sucos prensados a frio (os de amanhã são da Detox Shop, mas já fiz Detox Day com os sucos da Detox Market, deliciosos, não passei fome). Vou recomeçar hoje, 26.11, com 61.4 Kg.

 


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Discurso do papa

"Você pode ter defeitos, ser ansioso, e viver alguma vez irritado, mas não esqueça que a sua vida é a maior empresa do mundo. Só você pode impedir que vá em declínio.
 
Muitos lhe apreciam, lhe admiram e o amam.
 
Gostaria que lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, uma estrada sem acidentes, trabalho sem cansaço, relações sem decepções. Ser feliz é achar a força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor na discórdia. Ser feliz não é só apreciar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza.  Não é só celebrar os sucessos, mas aprender lições dos fracassos. Não é só sentir-se feliz com os aplausos, mas ser feliz no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões, períodos de crise. Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista para aqueles que conseguem viajar para dentro de si mesmo. 
 
Ser feliz é parar de sentir-se vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir achar um oásis no fundo da nossa alma. É agradecer a Deus por cada manhã, pelo milagre da vida.  Ser feliz, não é ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si.
É ter coragem de ouvir um "não". É sentir-se seguro ao receber uma crítica, mesmo que injusta. É beijar os filhos, mimar os pais, viver momentos poéticos com os amigos, mesmo quando nos magoam. Ser feliz é deixar viver a criatura que vive em cada um de nós, livre, alegre e simples.  É ter maturidade para poder dizer: "errei". É ter a coragem de dizer: "perdão". É ter a sensibilidade para dizer: "eu preciso de você".  É ter a capacidade de dizer: "te amo". 
 
Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz...  Que nas suas primaveras seja amante da alegria. Que nos seus invernos seja amante da sabedoria. E que quando errar, recomece tudo do início. Pois somente assim será apaixonado pela vida. Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita.
Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Utilizar as perdas para treinar a paciência. Usar os erros para esculpir a serenidade. Utilizar a dor para lapidar a o prazer. Utilizar os obstáculos para abrir janelas de inteligência.  
 
Nunca desista....

Nunca renuncie às pessoas que lhes ama. 

Nunca renuncie à felicidade, pois a vida é um espetáculo incrível".


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Meu peixinho vermelho, meu peixinho azul

Meu peixe beta vermelho e meu peixe beta azul na verdade não são meus, são dos meus filhos. Cada um vive num aquário diferente, pois os peixes beta coloridos são macho e não se pode pôr dois machos juntos (porque se atacam).

Pois bem, cada um dos meus meninos ganhou da minha sogra um peixe, um aquário, plantinhas artificiais para decorá-los e (suponho) entreter os peixes (será?!), e cada um escolheu uma casinha para o amigo: Felipe quis um tronco de árvore com um túnel no meio e o Lucas preferiu um barquinho fofo. Aquários lindos, enfeitaram e deram vida à minha copa.

Os meninos ganharam também um potinho com a comida dos peixes que, segundo orientação do vendedor da Cobasi, deveria ser dada de manhã e à noite, "apenas quatro bolinhas para cada um". Seguiram a orientação direitinho e têm alimentado seus pets com muita responsabilidade.

A questão é que toda vez que entro em casa (entro pela copa), vejo o peixe vermelho todo animado, mexendo as nadadeiras, explorando o aquário, tenho até a impressão que ele vem até mim quando eu me aproximo dele. Come toda a comida que é jogada na água numa tacada só, e fica olhando, parece que está pedindo mais. Já o peixe azul está sempre parado, no mesmo canto, nadadeiras imóveis, não se interessa por qualquer movimento na água, nem mesmo pela comida, que muitas vezes sobra e fica lá, boiando.

É óbvio que desde que eles (os peixes) chegaram, e eu notei essa diferença, comecei a me preocupar com o peixe azul. Fico apreensiva, pensando que posso encontrá-lo morto cada vez que estou para entrar em casa. Por que raios o peixe vermelho é tão alegrinho e o azul tão borocoxô?! O vermelho é mais bonito, tem nadadeiras coloridas, mas é mais magrinho, desconfiei da saúde dele quando chegou, e não da saúde do peixe azul, mais gorducho. Mas o azul é tristonho, e agora temo por ele.

Ao mesmo tempo em que notei essa diferença de comportamento dos peixes, notei também em mim essa tendência de voltar minha atenção aos mais fracos, aos mais carentes. Acho o peixe vermelho lindo, acho muito interessante ficar observando seu movimento dentro do aquário, cima, baixo, parece às vezes enxergar o peixe azul no outro aquário e querer transpor o vidro para enfrentá-lo, fica excitado, adora sua casinha, as nadadeiras são longas, coloridas. Eu admiro o peixe vermelho. Mas o peixe vermelho está bem resolvido na sua vida aquática. Não precisa de mim. O azul parece precisar, e é com ele que me preocupo.

Eu fico pensando, meio que sonhando, se esses peixinhos estivessem no rio, o vermelho teria toda a admiração dos demais peixes, seria hábil para fugir dos predadores, acho que ele ganharia com facilidade os embates com outros peixes beta, enquanto o azul seria esquecido, deixado de lado e, logo, comido. A vida da gente é assim. Os mais fortes vivem, os mais fracos perecem. Os mais fortes têm apoio de multidões, são admirados, são imitados. Os mais fracos são ignorados. E pensar nessa realidade parte meu coração. Por isso, hoje em dia sigo muito menos as notícias do mundo; tenho preferido a ignorância. Tenho preferido não ver que quem tem mais dinheiro manda em quem tem menos, que quem tem mais influência política decide por quem não tem, que o coleguinha mais esperto determina como o mais bonzinho deve agir, que quem está no peso ideal orienta a vida de quem não está. Que fique claro: eu também me encanto com muitas histórias de sucesso financeiro, como a do Jorge Paulo Lemann, admiro algumas pessoas do meio político (não as do atual governo!), acho legal ver como algumas crianças captam o mundo adulto tão cedo, e admiro muito as atuais musas fitness, assim como adoro observar o peixe vermelho. Mas há algo em mim que me leva a olhar com muito mais carinho e atenção para quem está esquecido no outro pólo dessas relações, como acontece com o azulzinho.

Eu procuro desviar a atenção das coisas que me lembrem dessas dualidades, notícias, histórias, pessoas que vejo nas ruas. Mas o peixe azul me escancarou a vida real: a fragilidade de alguns versus a força de outros, e está sendo chato pra mim conviver com o peixe. Me conforta lembrar que eu posso estar errada, e o peixe azul pode vir a viver mais que o vermelho, mostrando para mim mesma que uma fragilidade pode ser só aparente, que o jogo pode ser virado e que as coisas podem ser diferentes do que parecem ser. Mas vou ter que esperar o ciclo de vida deles para ver.



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Medo

Eu venci meu medo. Faz quatro anos que quero marcar no meu corpo as iniciais dos meus filhos: F e L, mas não tinha, até agora, conseguido coragem para ir em frente. Também não tinha até agora questionado a mim mesma o que me segurava. Eu já tinha sim, por diversas vezes, me perguntado porque eu queria fazer a tatuagem, e a resposta era fácil: meus meninos passaram a ser o sentido da minha vida desde que soube que carregava cada um dentro de mim. A vinda deles me abriu os olhos e o coração para tanta coisa boa, é tanto amor, gratidão pela vida, que acho natural o desejo de gravar suas iniciais comigo, como um símbolo mesmo, um ritual meu. Mas o que me impedia de concretizar esse desejo era obscuro para mim até poucos dias, quando finalmente descobri que se tratava de medo.

Nunca fui de ter medo do que as pessoas pensam de mim, nunca dei importância para a opinião dos outros (talvez poucas vezes), mas definitivamente não era esse medo que me segurava nesse caso. Qual era então?
 
Nas diversas ocasiões em que senti medo de verdade quando adulta, muitas vezes nos momentos em que tive de fazer escolhas, pensava demais nos "e se"s da vida, ia longe mesmo, ia no extremo, "e se eu mudar de país", "e se a profissão que eu quero não der certo", "e se eu tiver que lidar com um problema sério de um filho", "e se meu pai morrer", e por aí ia... Bom, tudo isso efetivamente aconteceu, e eu estou aqui, feliz, me sentindo melhor do que sempre. 

O medo que eu sentia nas ocasiões em que tinha de fazer escolhas roubavam muito da minha energia, pois dominavam minha mente e eu não conseguia direcioná-los, ou seja, passar por eles, ir em frente mesmo com medo, OU decidir, vez por todas, que, naquele caso, o medo tinha fundamento, e seria melhor não prosseguir (nesse caso, o medo teria cumprido seu papel: alertar diante de um perigo real). Já faz um tempo que descobri que a postura numa encruzilhada deve ser essa: avaliar as perdas e ganhos de cada uma das opções e optar consciente, sabendo que o ganho do caminho preterido ficou para trás. E ponto. Já faz um tempo também que percebi que nosso cérebro é criativo demais e que a vida é absolutamente imprevisível, de modo que quase nada adianta fazer suposições de acontecimentos futuros derivados de uma ou outra direção. Tudo pode acontecer de forma muito diferente do a gente imagina, ou pouco diferente, mas raramente as coisas acontecem exatamente como pensamos que seria. 

É claro que toda decisão deve ser informada. Eu mesma já agi impulsivamente muitas e muitas vezes, principalmente no começo da juventude. Agir por impulso é não avaliar as possíveis consequências dos nossos atos, e isso é péssimo; significa a possibilidade de sofrermos um efeito indesejado criado por nós mesmos. Mas o contrário é igualmente terrível: imaginar consequências inúmeras, muitas improváveis, e paralisar diante de um avalanche imaginaria de hipóteses. 

E precisamos saber que coisas ruins acontecem na nossa vida, as situações mais temidas podem sim aparecer (eu mudei de país - e fiquei longe da minha família por mais de dois anos; a profissão que eu sempre achei que queria não aconteceu; sofri muito por questões ligadas ao meu filho; e meu pai já não está mais comigo, pelo menos não fisicamente). E a gente dá SIM conta de todas essas circunstâncias, tem que dar.

Pensando nisso, resolvi prosseguir e escrever meus meninos em mim; não vi efeitos horrendos, e acho que posso lidar com as consequências que vi. Agora, onde quer que eu esteja, estou com meus amores no coração, no pensamento e na minha perna esquerda.







quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Preguiça - pecado capital

Descobri hoje, pela minha própria experiência, porque a preguiça é um pecado capital.

Sempre acreditei que a Igreja descreveu os sete pecados capitais (preguiça, ira, inveja, avareza, luxúria, soberba, gula) com base naquilo que faz o homem infeliz. A raiva que sentimos de alguém, por exemplo, tenha certeza absoluta, faz muito mais mal a quem sente do que ao objeto da raiva; quem cultiva o sentimento se desgasta, se cansa, desperdiça energia. 

Meus dias são sempre agitados, e não me considero uma pessoa preguiçosa, não posso ser. Mas existem dias em que parece que a inércia do repouso vai falar mais alto, e nossa mente começa a produzir desculpas em série para deixar de fazermos o que tem de ser feito. É claro que muitas vezes precisamos nos permitir um descanso (a vida hoje em dia é puxada para todo mundo), mas na maior parte das vezes, o cansaço é apenas mais uma desculpa para deixar a preguiça dominar.

Descobri que a malvada foi elevada à categoria máxima de pecado capital porque impede a gente de fazer conquistas e, assim, reforçar nossa autoconfiança, autoestima e senso de realização. Uma vez vencida e cumprida determinada tarefa, segue-se, geralmente, a satisfação, o sentimento de plenitude, a felicidade. O mesmo acontece com a gula: se controlarmos o impulso de querer comer cada vez mais, se conseguirmos fazer prevalecer a moderação, teremos, muitas vezes, na sequência, a sensação de bem-estar, de conquista. Nada diferente com a avareza: o prazer de compartilhar, de ajudar ao próximo, normalmente é muito maior do que o prazer de possuir; as pessoas menos egoístas aparentam ser mais plenas, viver mais tranquilas, do que as mais individualistas. E, segundo tem-se comentado por aí, parece que nascemos para ser felizes. Confere?

Hoje, venci a preguiça, e me senti feliz. Fiz exercício físico pela manhã (na única meia hora que consegui) e o resultado (dessa meia horinha) perdurou pelo restante do meu dia: endorfina, energia e bom humor para cumprir tarefas em três cantos diferentes da cidade acompanhada pelos meus dois moleques superenergéticos, finalizar a jornada com banho nos dois e jantar, tudo com muita paciência, até a hora de dormir (detesto perder a paciência com eles, me sinto frustrada, como se eu não tivesse dado conta do recado).

Mas já houve situações em que ter vencido a preguiça me trouxe outros ganhos, momentos deliciosos que trago guardados na minha história. Eu era o tipo de pessoa que não suportava filas, lugares com muita gente. A ideia de sair de casa num sábado e ir me divertir num lugar animado, mas cheio, me dava, só de pensar, uma preguiça enorme. Com a chegada dos meus pequenos e na medida em que eles foram crescendo, fui obrigada a enfrentar esse tipo de desafio, já que muitos dos programas infantis em São Paulo são lugares lotados, principalmente nos finais de semana. Pois se eu não tivesse vencido, se tivesse delegado a alguém a tarefa de levá-los para conhecer o zoológico (um exemplo) não teria na minha lembrança a carinha de cada um deles admirando aqueles animais tão diferentes pela primeira vez. 

Para melhorar a qualidade das nossas vidas, precisamos levantar, fazer, realizar, ir, explicar, conversar, entender, ouvir (pode ser uma tarefa passiva também), mexer, ler, escrever, produzir, encarar, lutar, persistir, pensar o que queremos levar da vida, que vida queremos levar, quem queremos ser no fim das contas, e não nos deixarmos vencer pela vozinha do deixa-pra-ser-feliz-amanhã, conhecida como desculpa.

OBS. Vejo como preguiça aquela força que nos prende diante de uma tarefa que para nós, geralmente, é fácil ou razoavelmente fácil de realizar. Se essa tarefa é sempre e inevitavelmente difícil, aí a questão é outra; talvez você precise mudar de vida, e não é disso que falei aqui, não dessa vez ;)


 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

O Encontro Marcado

"O Encontro Marcado", de Fernando Sabino, marcou demais a minha adolescência, principalmente o trecho abaixo, extraído de uma carta de Hélio Pellegrino, que serviu de prefácio ao livro:

"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nesse época, conformar a realidade com suas mãos pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perde-lo, é contemplá-lo na sua total é gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos é teremos as mãos vazias na medidas em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Nesse momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossas vidas, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Esse é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome."

Pellegrino foi um psicanalista e escritor brasileiro, e tinha amizade com Fernando Sabino, também escritor. Eles eram amigos, mineiros, nascidos na década de 20, e ambos quiseram tratar da questão do autoconhecimento.

Quando li o livro pela primeira vez, aos 15 anos, inclusive o texto acima, gostei muito e sabia que havia nele uma mensagem para a vida. Mas eu era incapaz de compreendê-la por inteiro -- eu ainda não tinha chegado ao meio-dia da minha vida. Hoje, aos 37 anos e relendo o livro pela terceira vez, é como se a narrativa fechasse e, anos depois, ela fizesse total sentido.

O livro narra a jornada de Eduardo Marciano, um jovem que simplesmente caminhava pela vida, sempre à procura de respostas. Ele ia vivendo e fazendo escolhas com base no que fatores externos traziam para ele, e não com base no que ele mesmo julgava importante para si.

E assim é que em determinado momento da sua juventude, seus pais entendem que está muito magro, abatido, e decidem (por ele) que deve fazer natação. Então Eduardo se torna o melhor, o campeão das piscinas. Nessa época, levado por um sentimento de superioridade, ele passa a se desinteressar pelos assuntos e pelo amigo do colégio, com quem acaba por ter uma briga física e, por isso, é levado ao monsenhor, diretor da escola. Fica clara, nessa passagem, a falta de autoconsciência do personagem que, indagado pelo diretor sobre "o que queria da vida", assustou-se (num primeiro momento, achou, inclusive, que a pergunta nem era dirigida a si).

E nessa linha segue o livro do meu admirado Fernando Sabino, até que a passagem que dá nome ao livro mostra o esforço de Eduardo na busca de algo, do sentido da vida. Ele, jovem, marca com seus melhores amigos um encontro para dali a tantos anos em determinado local. Passado o tempo, Eduardo comparece, mas os demais não; estão com vidas diferentes, com seus rumos tomados, e Eduardo começa a perceber que as respostas da vida não estariam naquele encontro, frustrado, mas sim dentro dele, onde teria que esforçar-se para buscá-las, pois não, a vida não as entrega de bandeja.

De fato, tudo o que mais procuramos entender, a paz de espírito tão desejada, o equilíbrio e a aceitação do que não podemos alterar, tudo isso está dentro da gente, não vem de fora. Mas não podemos culpar o pobre do Eduardo. Acho eu que a angústia que ele sentiu a vida toda vinha do fato de que ele não reconhecia ser só. E todos nós, cada um de nós, é um ser só. Apenas no momento em que se reconhece estar por si é que é possível buscar no outro algo para incrementar nossas vidas, para enfeitar, ajudar a crescer. Mas não tem como buscar no outro o próprio ser de cada um.

Somos mesmo pobres e nus diante da vida, do todo. Mas não podemos permanecer como um enigma para nós mesmos. Se assim ficarmos, seremos um enigma para o outro também. Não devemos negar a nós mesmos, nem à humanidade, a nossa luz, o poder transformador que cada um tem. Seria egoísmo, seria retardar o progresso dos seres humanos como um todo.

É claro que o caminho da procura é cansativo, doloroso. Requer paciência, perseverança (não desistir quando parece perdido), fé (em si mesmo). Requer inclusive certa alienação do mundo fisco, me parece (eu mesma estou na busca, no começo, mantenho a fé). Mas quem disse que o mundo físico é tudo? Para mim, ao contrário, ele não é o essencial.







segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Carpe diem, com nossos filhos

Foi-se o tempo em que eu estava grávida, em que tentei amamentar, em que tive momentos de imensa insegurança. Ele chorava tanto, era difícil acalmá-lo. Eu não queria babá, nem enfermeira, achava que dava conta sozinha. 

No décimo dia de vida dele, eu estava exausta, tensa com o que ainda estava por vir, ele era bem inquieto, e eu precisava dormir. Buscamos então uma enfermeira, e achamos uma, a Zezita. Ela salvou minha vida. 

Depois foi o tempo em que ele comeu a primeira papinha (tão lindo), ficou gordinho, fez gracinhas, deu gargalhadas, engatinhou, andou.

Foi-se o tempo em que cancelamos sua festa de um ano pois eu, grávida do meu segundo filho, tive sangramento e precisei ficar de repouso. A festa seria de palhacinho... Meus pais e minha sogra tinham ido preparar toda a festa na nossa casa do interior, com antecedência. Tudo cancelado, mas cantamos parabéns pra ele numa reuniãozinha simples, em casa mesmo.

Foi também o tempo em que passei uma segunda gravidez trabalhando, uma gravidez mais tranquila do que a primeira, eu me estressava menos. 

Passou o tempo em que tive um bebê prematuro em casa, nascido com 35 semanas por rompimento da bolsa. Minha avó-segunda-mãe faleceu, a bolsa se rompeu cinco dias depois da morte dela, ou cinco semana antes da DPP (data provável do parto). 

Foi-se o tempo em que eu tive dois bebês em casa, dois para trocar fraldas. Foi-se o tempo em que um choro noturno poderia significar febre, e que eu já entrava no quartinho com o coração na mão (me tornei hoje uma pessoa de coração mais firme). Foi-se o tempo das cirurgias (amígdalas, adenoides, fimoses, todas da primeira infância, e refluxo urinário, hérnias, outras menos comuns).

Passou a fase de tirar chupeta, mamadeira, ensiná-los a comerem sozinhos. Passou o tempo de tirar fraldas. Passou o tempo de aprenderem a nadar.

Meus bebês cresceram. Estão na fase do medo de fantasma, de brincar de luta, de fazer bagunça, desmontar meu sofá da sala, nadar na piscina, fazer palhaçada. Estão fazendo descobertas. E eu descobrindo as pessoas que se tornarão, junto com eles.

Meu pequeno tinha medo de cinema até pouco tempo. Acho que era medo do escuro e do barulho, os dois ao mesmo tempo. Aos poucos, meu marido conseguiu, com jeitinho, fazê-lo entrar na sala, e ele já está no terceiro filme da telona (os pezinhos da foto são dele).

Nossos filhos crescem, e crescem depressa demais. Meu filho mais velho e meu afilhado, os dois com cinco anos, já escrevem seus nomes, e nomes de outras pessoas e, no ano que vem, certamente escreverão palavras inteiras, talvez sentenças. O meu filho mais novo também já escreve seu nome, já teve uma melhor-amiga-noiva na escola, já tem há tempo um melhor amigo. Hoje descobri que meu afilhado (de cinco anos) chora com cenas emocionantes no cinema -- pode existir coisa mais linda?!! 

Logo mais nossos meninos serão pré-adolescentes, depois adolescentes, depois moços. Meu filho mais novo terá uma falha na barba, na região do queixo: tomou seis pontos mês passado, quando caiu da cama. Será uma lembrança dos seus quatro anos, para mim, não para ele.

Parece que foi ontem que demos uma roupinha tirada do Felipe, quando ele ainda estava na maternidade, para minha cachorrinha cheirar, e já ir se acostumando com ele. Ela tem ciúme dele até hoje...

Parece que foi ontem que eu me casei já com um desejo enorme de ser mãe; eu sabia que essa seria minha maior realização. É muito amor, é um crescer junto, aprendizado constante, fortalecimento para a alma.

Um pouco da vidinha deles já passou (não na minha lembrança), e muito há por vir. Hoje, olhando para os pezinhos do meu Lucas ao meu lado, suas mãozinhas segurando o saco de balas, e não mais se agarrando a mim, me dei conta de que eles crescem, mesmo. Ele não tem mais medo de cinema. Até uns dias atrás ele não entrava.  Até uns dias atrás ele asistiu a um filme segurando na minha mão. Ele não precisa mais segurar.

Todas as fases das vidas deles passam, as boas e as ruins. O difícil passa, o lindo virá e passará, tudo num ciclo. Por isso, que nenhuma dessas etapas seja festejada em excesso, ou angustiante demais. As crianças mudam, as crianças crescem. Que consigamos aproveitar cada momento das suas vidinhas, parte das nossas próprias, o agora. Hoje foi o dia de olhar os pezinhos do meu pequeno e as lágrimas de emoção do meu afilhado. Valeu meu dia, já ficaram na minha lembrança.






sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Sensibilidade alimentar

Em fevereiro deste ano, o Felipe (meu filho mais velho) começou apresentar uma tosse chata. Toda tosse é chata, mas a dele tornou-se especialmente chata porque não passava de jeito nenhum. De jeito nenhum, não! Teve um jeito, mas só descobri qual era em junho. De fevereiro a junho, tentei (obviamente por orientação do pediatra - e do pneumologista!) diversos medicamentos alopáticos, principalmente antibióticos. Em quatro meses, ele acabou fazendo por volta de quatro tratamentos com diferentes antibióticos (e acho que mais um quinto, interrompido no quarto dia), pois o entendimento dos médicos era que o anterior não tinha tido efeito.

Obviamente, em junho, ele teve problemas gástricos e intestinais por conta de tantos remédios e, um belo dia (nada belo!) eu caí em prantos (literalmente), pois a tosse era constante (dia, noite, enquanto ele se alimentava, enquanto ele falava) e só diminuía um pouco quando um novo tratamento com antibiótico começava; mas logo voltava.

Eu não sabia mais o que fazer. A essa altura, a antroposofia já havia me tocado e eu já estava frequentando o curso da Ana Paula Cury (da Sociedade Antroposófica no Brasil). E a antroposofia diz não só do espiritual, mas também se estende à medicina (e ainda outras áreas, como a pedagogia). Minha experiência com a medicina atroposófica até este momento tinha sido próxima a zero: eu contava com relatos de familiares e amigos, e com o uso próprio de um medicamento que trata a ansiedade (Ansiodorom), que é vendido em farmácia comum e que comprei descrente (porque vi de relance na farmácia e o nome me disse alguma coisa) mas que tinha sido eficaz em mim. Na verdade, confesso envergonhada, hoje: eu achava que o efeito do Ansiodorom para mim tinha sido "psicológico", ou que tinha sido uma coincidência eu ter estado mais calma nos dias que se seguiram ao uso do medicamento; para mim, a medicina antroposófica equivalia a algum tipo de "medicina esotérica". Eu não tinha relacionado, ainda, as maravilhas que eu tinha aprendido no curso à possibilidade de tratar um filho com esse tipo de remédio, mas a situação do Felipe me fez marcar uma consulta com o meu atual senhor-deus-na-terra, o Dr Aranha, da Clínica Tobias.

Ele me foi indicado por uma das minhas melhores amigas; então eu sabia que ele era bom. Ainda assim, fui à consulta desconfiada. Gostei do jeito dele, muito. A clínica é acolhedora, passa uma paz. Meu filho foi examinado, o Dr Aranha achou tratar-se de tosse alérgica (o Felipe já havia feito diversos testes por solicitação dos médicos alopáticos e ele não é alérgico, no sentido que estamos habituados a usar o termo: pêlo de cachorro, pó etc.) Ele receitou para o meu filho quatro tipo de "gotinhas" diferentes, incluindo para a flora intestinal (estragada pelos antibióticos) para eu administrar quatro vezes ao dia. E pediu um teste de sensibilidade alimentar.

No começo de julho, depois de UM DIA de gotinhas, a tosse do Felipe cessou.

Foi a partir daí que a antroposofia (e tudo aquilo que diz respeito ao homem como um todo, físico, espiritual, emocional) virou meu estilo de vida. Mas não é sobre isso que quero falar agora, e sim sobre a sensibilidade alimentar do meu filho.

Conforme solicitado pelo Dr Aranha, levei-o para coleta de sangue no Instituto de Microecologia e, após alguns dias, o resultado mostrou que ele tem reação a 54 tipos de alimentos!

Seguimos rigidamente a dieta por um mês, sem medicamentos, e, de fato, ele não teve mais a tosse. Como são muitos alimentos a que ele tem restrição, fica muito difícil permanecer fiel ao permitido para sempre, já que o proibido inclui ovo, glúten, frango, por exemplo. Agora, em outubro, que ele teve mais uma crise, vamos reiniciá-la à risca.

Segundo explica o Instituto de Microecologia, responsável pela realização do exame (denominado Imupro), o sistema imunológico do intestino é o mais importante de todo o organismo; ele garante uma barreira muito eficaz contra bactérias e outros agentes patogênicos, e também contra proteínas alimentares que não reconheça. Quando a integridade desta parede intestinal é danificada (por medicamentos, infecções, toxinas ambientais etc) ela acaba permitindo a entrada de fragmentos de nutrientes entre as células, e o sistema imunológico reconhece-os como estranhos; como consequência, produz anticorpos contra a substância estranha. Daí as reações imunológicas repetitivas, que levam a inflamações crônicas.

Ainda segundo o Instituto, esse tipo de alergia são medidas pelo anticorpo IgG e suas manifestações são tardias, ou seja, podem se manifestar muito tempo depois do primeiro contato com o alérgeno. As alergias detectadas por meio do IgG são caracterizadas por reações inflamatórias. Isso pode provocar cefaleia, sobrepeso, problemas gastrointestinas, dermatite, problemas respiratórios e outras doenças autoimunes. 

O fato dessas alergias aparecerem tempo depois do contato com o alérgeno é o que diferencia das alergias detectadas pelo IgE, já que a manifestação deste segundo tipo de alergia aparece imediatamente após o contato com o agente.

Por fim, acho importante dizer que, também de acordo com o Instituto de Microecologia, as reações derivadas de uma flora intestinal danificada são reduzidas quando há mudança alimentar, sendo que as reações mediadas pelo anticorpo IgE permanecem a vida toda.

Desta vez segundo o Dr Aranha (e como verifiquei quando fiz a dieta no meu filho), a mudança alimentar de acordo com o resultado do exame ajuda, inclusive, a alterar determinados comportamentos, como uma agitação muito intensa. O Felipe sempre foi muito acelerado (chegamos a cogitar que ele fosse hiperativo) e, quando segui corretamente as instruções alimentares, ele ficou mais tranquilo. O médico me explicou que os alimentos a que ele desenvolveu alergia acabavam por inflamar até seu sistema nervoso, daí a inquietação.

Meu próximo passo, após ter tomado todas as providências em relação ao meu filhote, será marcar uma consulta com o santo-na-terra Dr Aranha, fazer o exame em mim e melhorar ainda mais minha qualidade de vida ;)



Simpatia

Acabo de sair do mercado. Peguei por último uma bandejinha de queijo prato, uma novinha, que tinha acabado de ser fatiada. Ela veio acompanhada de um sorriso meigo, alegre e de um olhar brilhante.

Eu ia pegar uma bandeja da pilha mais antiga, mas o rosto mais iluminado daquele corredor, em cima de um corpo vestido com jaleco todo branco, em cujo bolso estava bordado o logotipo do estabelecimento, me indicou que aquela outra leva (que apontou) acabara de ser preparada. 

Olhei de novo para o rosto moreno e agradeci, e a moça continuou trabalhando na arrumação dos queijos. E eu segui em direção ao caixa sorrindo, sorrindo por dentro. E terminei as compras feliz, muito mais feliz do que estava antes de receber a atenção da mocinha.

Qual a obrigação que ela tinha de me ajudar a comer um queijo mais saboroso? Não tinha essa obrigação. Muito menos a obrigação de estar irradiando alegria, de me olhar com simpatia, de perder cinco segundos comigo. Mas ela se preocupou, e eu saí do mercado mais alegre do que entrei. 

Tenho certeza de que a tal moça do queijo tem dias péssimos, tem TPM e deve fechar a cara poucas ou muitas vezes. Mas isso, mesmo, não importa. Ela foi capaz de, sem querer (disso também tenho certeza), fazer as últimas horas da minha sexta-feira mais suaves, e isso, por si só, tem muito valor.

A minha avó já dizia que "simpatia é quase amor". Eu discordo. Eu acho que simpatia é o próprio amor, uma das formas pelas quais ele se manifesta. 

Mocinha do queijo, você foi muito importante pra mim!




quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aprendendo a fazer escolhas

Meus meninos ganharam da minha sogra, cada um, uma caixinha muito fofa para guardar os dentinhos de leite que forem caindo. Amei! São essas aqui:



Mas quando caíram os dois dentinhos de baixo do meu filho mais velho em julho desse ano, eu já tinha implementado a lenda da fada-do-dente na minha casa. Caíram os dois de baixo na mesma semana, e repetimos o ritual nas duas ocasiões: escovamos o dentinho, escrevemos carta. Ele mesmo escreveu, quase morri de amores:

"Fada do dente - pegue meu dente - me dá uma moeda ou um presente" 

Colocamos ambos (dente e carta) embaixo do travesseiro e, na manhã seguinte, ele achou a moeda (na segunda vez, com o intuito de inicia-lo na arte da economia, deixamos uma nota um pouco mais valiosa e levamos à loja para que ele mesmo escolhesse o presente da fada - incrementando a lenda!)

Ele adorou, foi mesmo mágico. O mais novo ficou ansioso para entregar seu dentinho, quando chegar a sua vez, em troca de moeda (ou quem sabe uma notinha maior). Mas se eu aparecesse agora com as caixinhas fofas, minha historinha iria perder um pouco o encanto, já que se desinteressariam por entregar o dente. Assim, resolvi guardá-las até que, daqui um tempo, quando, desfeita a magia da fada naturalmente, eu mostraria os dentes, todos, guardados e, juntos, colocaríamos nas respectivas caixinhas (já faz quase seis anos que sou mãe e ainda não aprendi que esses momentos fantasiados na nossa cabeça materna NUNCA saem como pensados...)

Ontem, meu afilhado esteve em casa; eu trouxe direto da escola (a mesma dos meus filhos), e eis que de repente ele tira da mochila A CAIXiNHA, que ele também ganhou da minha sogra (avó dele também) e, é claro, meus meninos piraram. Também é claro que eu tive que dizer que a vovó deu para cada um deles uma caixinha igual, e que eu estava guardando. Festa! Dormiram com o porta-dentinhos.

Hoje cedo, o mais velho acordou triste. Percebeu que já havia entregue seus dois primeiros dentes para a fada e que, portanto, sua caixa ficaria incompleta. Procurei ajudá-lo, como sempre faço. Disse que isso não era um problema, pois ele tinha recebido em troca moeda e presente (ufa, ainda bem que da segunda vez não foi só uma moeda!), e que a fada teria para sempre os seus dentinhos, como recordação sua. Procurei fazê-lo ver o ganho da outra situação, a da entrega do dente, embora, naquele momento, estivesse claro que a satisfação estava em completar a caixinha. Ele aceitou, calado. Ficou pensando.

Depois, ele falou mais alguma coisa relacionada aos próximos dentes; está confabulando consigo mesmo sobre os ganhos e perdas de entregar o próximo dente para a fadinha ou guarda-lo na caixa fofa, cheia de buraquinhos . Vou deixar que ele pense sozinho. Tem coisa mais espetacular que ajudar nossos filhos a fazerem escolhas informadas aos cinco anos de idade??!! Eu mesma só fui ter noção da importância de se optar com consciência há pouco tempo. Isso ajuda muito a aceitarmos as perdas de uma escolha com certa facilidade, pois teremos colocado na balança e concluído que os ganhos da uma determinada opção têm mais valor para nós, na nossa vida, naquele momento. Isso ajuda, inclusive, a que nos conheçamos melhor, nos obrigando a avaliar nossas prioridades. E serve também para que, conscientes de nossas opções de vida, não nos frustremos por não termos em mãos algo que nós mesmos deixamos para trás.

A caixinha de dentes servirá como um grande aprendizado para o meu menino; quero lembrar dela sempre e continuar estimulando neles o exercício das escolhas, das perdas e ganhos, do autoconhecimento.

Hoje

Mais um dia começando, agradecimentos em dia, café da manhã saudável check (faz duas semanas que venho seguindo o "sem glúten/sem lactose", e tenho me sentido muito menos inchada).

Hoje vou contar história na classe do meu pequeno mais novo. Faz parte de um projeto da escola, que convida familiares para ler pra eles e passar alguns instantes ali, junto. Adoraria ter tido tempo para escolher com mais cuidado o livro (preciso trabalhar na organização do meu tempo), mas ainda consegui ontem à noite ir à livraria e escolher três opções: O Gato Xadrez (gato feliz no final porque encontra seu estilo próprio, fora dos padrões), A Pequena Tartaruga Verde (tartaruga que passa páginas sem conhecer seu talento e, no fim, descobre ter um casco para se proteger da chuva) ou As Centopéias e Seus Sapatinhos (acho que sem mensagem específica; a centopeia vai comprar sapatos, experimenta vários, não compra nada e a joaninha vendedora cai exausta quando a centopeia sai da loja - comprei esse porque eu mesma amava as ilustrações quando criança). Ainda não sei qual vou escolher, acho que vou deixar para sentir as crianças na hora.. Se desse tempo, pediria um help aqui, mas já são 6:45 e eu a leitura é às 8:00. Preciso acordá-los. 

Não sem antes dizer que, depois da historinha, ainda vou trabalhar meus músculos para me manterem firme e forte por mais um tempo, suar um pouquinho na esteira, levar meu mais velho (do Papai Noel e da mosca) ao pediatra (antroposofico, ainda conto a história dele por aqui), depois na Michele (também ainda conto dela), depois cair dura, mas feliz por ter cuidado dos meus maiores tesouros, o que inclui a mim ;)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O essencial

Hoje consegui voltar para meu curso de antroposofia. Fazia meses que não comparecia por conta das minhas tarefas cotidianas. Saí feliz por ter estado com aquelas pessoas iluminadas e com a nossa mentora. Elas me lembram do que é o essencial.

O essencial (aquilo que fundamenta nossas vidas e que deve nortear nossas atitudes) é o amor e o crescimento do espírito. Uma vez que se compreende que é a nossa luz interna (o Cristo que mora em cada um de nós) que rege o existir e que justifica estarmos aqui, fica fácil tomar decisões, escolher nossos caminhos diante da vida, dominar nossas emoções. O essencial não é material.
 
De fato, as atenções hoje em dia estão em demasiado voltadas para aquilo que se tem; no entanto, se fecharmos os olhos e procurarmos nos lembrar de bons momentos das nossas vidas, por certo virão às nossas lembranças sentimentos, aromas, paisagens, melodias, sensações, e não a matéria física; virá à memória a essência das coisas, aquilo que não se pode ver. E tudo aquilo que diz respeito ao espírito faz parte desse mundo invisível, sensível.

Por muito tempo vivi esquecida da parte espiritual. Sempre me voltei muito ao intelectual, ao corpo físico, até ao meu lado emocional, mas a minha alma andava bem esquecida. E eu sentia uma vazio; só demorei um pouco a descobrir que o que faltava era olhar para dentro de mim e ouvir a voz do coração, enxergar essa luz que apaguei muitas vezes, dominada pelo senso do hoje e pela atenção ao que é puramente material, dogmas que aprisionaram não só a mim, mas que dominam a nossa era.

É preciso que nos tornemos mais leves, que permitamos a expansão dessa energia vital, sem medo, desfazendo crenças próprias da época em que vivemos. Já disse Rudolf Steiner que a angústia e os medos patológicos do homem são muitas vezes o fracasso em desenvolver a consciência espiritual. É como se estivéssemos engessados em certezas absolutas (materialistas, de descrença na evolução), enquanto nossos espíritos pulsassem dentro de nós, buscando se expandir. Enquanto contivermos a pressão da nossa alma ou, nos casos em que ela ainda estiver latente, se continuarmos nos escondendo dela, permaneceremos no vazio profundo.  

Não sou, que fique claro, de modo algum, contra os bens materiais! Mas vejo no nosso tempo uma idolatria à matéria e ao físico, um excesso; me dá a sensação que estamos nós a serviço da matéria, e não o contrário. Me dá a sensação de estarmos nos agarrando a coisas terrenas, que nos fazem voltar para baixo, ao invés de nos agarrarmos a nós mesmos e, ao nos tornarmos mais leves, nos voltarmos para cima.

E que fique claro também algo que já mencionei em outro post: minha religião, hoje, é a religião espiritual. Não importa o nome do credo, nem os meios para se chegar ao Cristo, à luz e, consequentemente, à felicidade: o que importa é que se chegue.

PS 1. Esse assunto me faz lembrar de Mateus 6, 19-34, trecho que eu tanto lia da minha Bíblia de cabeceira quando pequena, que amo, e que transcrevo aqui:
 
"Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam.
Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam.
Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.
Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.
Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!
Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.
Portanto eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa?
Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?
Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?
Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem.
Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles.
Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens pobres de fé?
Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “Que vamos beber?” ou “Que vamos vestir?”
Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão dadas como acréscimo.
Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará os seus problemas. Para cada dia, basta o peso próprio dele."

PS 2. "A gente só enxerga bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos" - Saint-Exupéry (1900-1944)






 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Minhas mosquinhas-de-banheiro e o meu coração-de-ouro

Essa semana notei uma família de moscas-de-banheiro habitando o teto do meu box... Foi horrível ver aqueles vários (uns 30) pontinhos pretos se movimentando lentamente enquanto a suposta mãe, maior, voava e pousava, voava e pousava. A mosquinha-de-banheiro é essa aqui:

 
 
Pesquisando para escrever esse texto, descobri que as larvas da mosquinha criam-se nos ralos e encanamentos de banheiros (argh!); até hoje eu não sabia disso. Por isso, não soube responder quando meu filho mais velho (o mesmo que perguntou sobre o Papai Noel do outro post) qual era seu potencial nocivo (nas suas palavras: "ele faz mal pra gente, mamãe?").
 
Saí do banho hoje pronta para exterminá-los por esmagamento. Me vesti, peguei uma escada e um pano de chão (já que o inseticida de ontem não foi suficiente para assassiná-los). Ao me ver subindo as escadas com os equipamentos da minha guerrilha a essa hora da noite, fui questionada pelos meninos sobre meu propósito, e respondi naturalmente que ia matar filhotes de insetos que tinham nascido no meu banheiro. Não pensei que essa afirmação chocaria tanto o meu filho, que arregalou os olhos e, então, perguntou que mal eles poderiam nos causar.

Quando matei meu primeiro pernilongo na frente dele, já tinha me visto em situação parecida. Mas naquele caso, as picadas e zumbidos foram considerados por ele maldades suficientes para justificar suas mortes. Agora, com as moscas, nem passou pela minha cabeça dizer que suas patinhas poderiam estar cheias de sujeira, pois eu nem sabia disso; então fiquei sem palavras e disse que, na verdade, elas não nos causavam mal algum. Disse isso e paralisei; conheço o eleitorado e já sabia o que viria na sequência. "Deixa eles viverem, mamãe!" - era uma ordem, acompanhada de uma cara feia (ele chegou da escola hoje dizendo que aprendeu a fazer essa cara quando não gostava de alguma coisa). "Deixa eu ver?" - saiu correndo para o banheiro. Nesse momento, eu já joguei a toalha, estava atarefada com jantar para pôr à mesa, uniformes para ajeitar para o dia seguinte; então desci de volta conformada, pronta para guardar a escada e o pano; retomaria a tarefa da mosquinha amanhã. 

Já estava lá embaixo, vejo que ele desceu até metade da escada e diz: "Deixa essa história pra lá, mamãe, eles estão na casa deles, deixa eles morarem no banheiro." Não respondi. "Tá bom, mamãe?" Respondi que sim. A história da mosca realmente o tocou.

Já percebemos, aqui em casa, essa característica dele há algum tempo. Não há definição melhor do que dizer que é um coração-de-ouro, mas me debato para saber se acho uma qualidade ou ponto fraco. Deve ser algo bom, no fim das contas, querer bem a tudo e a todos, ver somente o lado bonito das atitudes das pessoas, mal perceber quando alguém não é tão receptivo, esquecer depressa uma ofensa, guardar níveis negativos de rancor. Mas eu, como mãe, me preocupo demais com todos os calos que ele vai ter que criar ao longo da vida. Vai ter que aprender a dizer não, a enxergar a malícia inerente ao ser humano (ele deve ter a dele também, vai ter que deixar aparecer em algum momento), vai precisar entender as sutilezas que regem a vida em sociedade, o conceito de inveja (já tentei explicar umas três vezes, ele não captou).

Amanhã vou explicar para ele que as mosquinhas são sujas, e que (ufa!) existe uma razão para matá-las. (Aliás, ele não entendeu até agora porque matamos bichos para comer; de duas uma: ou ele entende na aula de biologia a dinâmica entre presa e predador, ou vira vegetariano). E vou aproveitar que ainda se trata de mosquinhas sujas, algo bem palpável e bem simples de compreender...

Corrida

Hoje acordei MORTA de preguiça de me exercitar. Acho que é porque andei falhando no meu diário alimentar e, por dois ou três dias, escorreguei na dieta e, pior, nos doces (doces - doces - mesmo, como uma deliciosa torta de limão que minha mãe trouxe no domingo, barrinhas chocolate ao leite, hummmm). Sempre que a gente dá essas escorregadas, o ciclo do bem que estava girando pára, e começa a funcionar o ciclo do mal, do querer mais açúcar e da inércia do repouso.

Por sorte, me deparei na Internet com uma lista (publicada na revista britânica Zest) falando dos benefícios da corrida, e ela me animou!!! Vou dividir aqui os 12 itens do bem, caso eu possa ajudar mais alguém a levantar e ir suar:

1. Perda de peso (queima aproximada de 1000 calorias/hora)
2. Fortalecimento dos ossos, que são estimulados a se manterem fortes
3. Liberação do stress
4. Felicidade, por meio da liberação de endorfinas
5. Melhora do sistema imunológico
6. Queima de gordura, mudança do metabolismo corporal
7. Melhora da qualidade do sono
8. Coração mais saudável (circulação melhor, diminuição das chances de ataques cardíacos, de pressão alta ou derrame cerebral)
9. Saúde mental (melhora do humor, autoestima e autoconfiança)
10. Pele mais bonita, já que a circulação sanguínea e a distribuição de nutrientes, assim como a liberação de toxinas, ficam facilitadas
11. Aumento da capacidade cerebral, com o maior fluxo de sangue, oxigênio e nutrientes
12. Diminuição da ansiedade, por meio da redução da sensibilidade dos receptores de serotonina

Mas já escrevi muito!! Estou atrasada!!! Vou liberar endorfinas.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O Pequeno Príncipe

Ontem postei aqui uma citação dizendo que não vemos o mundo como ele realmente é, mas sim como cada um de nós somos. Também postei sobre a resposta que minha mãe me deu quando perguntei sobre a existência do Papai Noel: ele mora na nossa imaginação.

Curiosamente (talvez não tão curiosamente assim, afinal acredito piamente na lei da atração), hoje comecei a reler O Pequeno Príncipe; não me lembrava mais da narrativa nem da mensagem. Do livro, pude extrair muito sobre as formas individuais de se ver o mundo, e sobre a forma com que as crianças contemplam o mundo.

Esse assunto me interessa especialmente: tenho dois pequenos príncipes em casa, cujas mentes me fascina analisar, cujos mundos (infantis) são partes do meu mundo (adulto) e cujas almas eu estou sempre buscando engrandecer.

É lindo demais observar a perspectiva a partir da qual essas pessoinhas enxergam o universo. É um exercício muito prazeroso o de tentar entrar em seus mundinhos e viver neles por alguns instantes, procurar compreender seus medos, suas reações peculiares, de onde vêm seus sorrisos ou suas lágrimas, seus silêncios, seus olhares, e devolver uma resposta, uma atitude, outro silêncio ou outro olhar na mesma sintonia. Eu sempre procuro esvaziar minha mente e partir do nada para compreendê-los pois, afinal, eles ainda não receberam muitos elementos para formar seus diversos conceitos. 

O livro lembra que todos nós já fomos crianças um dia. Nos inspira a parar por instantes e buscar sensações que já tivemos quando pequenos, deixando de lado o papel de adultos que fomos obrigados a assumir por força da vida. Essa identificação com nossas crianças nos ajuda a ver o universo sob suas perspectivas e, assim, interagir com elas e passar nossas lições da forma mais eficaz. Ainda que o exercício de identificação não pareça fácil, comecemos por ouvir os pequenos. Calar e escutar uma criança falar, e responder com pertinência (entrar no mundo dela), exige apenas que nos desliguemos por um momento do nosso mundo (celulares, computadores, TVs etc). 


E por nos lembrar que já fomos crianças um dia, O Pequeno Príncipe nos faz questionar certas posturas que são possíveis apenas no mundo adulto. Por exemplo, o empresário que se considera dono das estrelas e passa a vida a contá-las não dá ao menino uma resposta satisfatória à pergunta: "E para que serve ser rico?" É a tradicional visão do dinheiro pelo dinheiro, compartilhada por muitos. E com isso, ao nos ternarmos adultos, acabamos perdendo a noção do que é essencial a nós mesmos, algo que as crianças têm de sobra e que devemos nos esforçar para que permaneça com elas.

Tenho certeza absoluta que me esforçando para convergir meu modo de encarar a vida com a forma dos meus pequenos olharem para o universo vou conseguir que eles extraiam de si mesmos o melhor, que mantenham o que é essencial ao homem (princípios, amor, compaixão, paciência, noção da nossa pequenez e da efemeridade desta vida - humildade), que desenvolvam meios de estar na selva e nela competir sem morrer por dentro. Vou me esforçar muito para que a magia permaneça neles e para que eles não deixem de acreditar em seus Papais Noéis, carneiros na caixa, em seus sonhos. 





 

domingo, 25 de outubro de 2015

Papai Noel

"Como é que o Papai Noel sabe o que a gente quer de Natal, mamãe?" - me perguntou o meu filho agora à noite, antes de dormir. "Ele ouve tudo, filho", eu respondi. Hã?! Que tipo de resposta foi essa?! Será que correspondeu ao que ele queria ouvir?! Ele tem cinco anos.

Lembro da minha vez... Estávamos eu e minha mãe à mesa redonda de madeira do apartamento em que morei quando criança (a mesma em que meu pai fazia os carrinhos de banana, e que já mencionei em outro post), quando ela resolveu me responder com sinceridade que Papai Noel existia sim, para quem acreditava nele. Não me lembro se era o que eu queria ouvir... Mas de toda forma, aos oito anos, eu já sabia a resposta.

Nessa época, na minha infância, a maior parte dos acontecimentos importantes foram acontecimentos da nossa infância, minha e de uma prima, cinco dias mais nova, a minha prima-irmã (nos dois sentidos, de sangue e de coração). Fui eu quem estragou tudo... Fui eu que, na casa dos meus avós no interior (a mesma em que eu via o pôr do sol amarelo e ouvia as histórias na soleira, e que já mencionei em outro post) levantei a questão que ouvi hoje, agora, como que ressoando de 30 anos atrás. Estraguei sua fantasia, pois confabulamos e concluímos que a entrega dos presentes no trenó voador não poderia ser possível. E fui questionar um adulto, minha mãe, que não viu outra saída (muito boa, por sinal) senão dizer que o velhinho mora na nossa imaginação (pura verdade).

A vida é um ciclo, e a história de Papai Noel se repete. Não sei se será neste Natal, talvez no próximo, não importa. Vou precisar esclarecer sobre o velho para ele qualquer dia, para o mais novo também, assim como vai chegar o dia de  explicar sobre sexo, por exemplo. Cada coisa no seu tempo, como foi comigo.

Ouvi já há algum tempo (acho que quando estava grávida do meu primeiro filho) que eu teria chance de reviver minhas fases de vida na medida em que as fases de vida deles fossem chegando, e de fato isso acontece: vivo o agora com eles, mas revivo ao mesmo tempo a minha própria etapa correspondente de anos atrás (o primeiro dente que caiu, os relacionamentos na escola etc). Isso me ajuda muito a tentar melhorar, para eles, experiências que, para mim, não foram tão boas, ou repetir as que foram positivas (no caso do Papai Noel, acho que a resposta da minha mãe foi genial e já estou considerando copiar!!). Parece, no entanto, que nossos filhos estão vivendo certas fases do desenvolvimento mais cedo... Éramos crianças mais ingênuas na minha época, sinto como se tivéssemos sido crianças com mais infância... Não sei se é culpa da tecnologia, da forma de ensino nas escolas, mas fato é que aos cinco anos eu jamais teria feito a pergunta que meu menino me fez...

Mas pé no chão: o Natal está aí, propagandas a mil diante da crise econômica do País, não sei se o Papai Noel da minha imaginação sabe o que meus filhos querem de presente, mas eles sabem muito bem, e eu já fui informada. Hora de preparar o coração pra reviver meus Natais do passado, viver meu Natal do presente, preparar o bolso e já deixar uma resposta na ponta da língua!