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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sem glúten/sem lactose


Enquanto não faço meu Imupro (sobre que falei neste post de outubro) sigo no "sem glúten/sem lactose". Na realidade, não é um sem glúten/sem lactose ortodoxo, já que dou algumas escapadas. Mas na maior parte do tempo, tenho feito opções sem esses itens.

O Imupro vai ser bom porque vou ter certeza de quais alimentos excluir.  Acho que desinchei desde que tirei o glúten e a lactose, mas me sinto meio que "maria vai com as outras" expulsando os pobrezinhos da minha vida sem provas cabais de que eles são vilões para o meu corpo. Além disso, pode ser que existam outros alimentos que me façam mal, como o café por exemplo, que apareceu no exame do meu filho (intolerância grau máximo no caso dele), e que eu tomo bastante (meu vício).
Por enquanto, estou procurando consumir as comidinhas deliciosas do Detox Market, que já encomendei por diversas semanas consecutivas, e opções gostosas do Mundo Verde.

Quero FOCAR de novo na alimentação. Recomeçar meu diário alimentar e fixar o hábito de comer de três em três horas, e em menor quantidade à noite. Para isso, espero contar com a ajuda do livro "O Poder do Hábito", de Charles Duhigg; ainda não comecei a ler; vou iniciar a leitura em breve, tentando adaptar meus hábitos do meu jeito. Acho que posso pensar nisso até que saia o resultado do meu Imupro. Amanhã recomeço com um Detox Day baseado em sucos prensados a frio (os de amanhã são da Detox Shop, mas já fiz Detox Day com os sucos da Detox Market, deliciosos, não passei fome). Vou recomeçar hoje, 26.11, com 61.4 Kg.

 


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Discurso do papa

"Você pode ter defeitos, ser ansioso, e viver alguma vez irritado, mas não esqueça que a sua vida é a maior empresa do mundo. Só você pode impedir que vá em declínio.
 
Muitos lhe apreciam, lhe admiram e o amam.
 
Gostaria que lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, uma estrada sem acidentes, trabalho sem cansaço, relações sem decepções. Ser feliz é achar a força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor na discórdia. Ser feliz não é só apreciar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza.  Não é só celebrar os sucessos, mas aprender lições dos fracassos. Não é só sentir-se feliz com os aplausos, mas ser feliz no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões, períodos de crise. Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista para aqueles que conseguem viajar para dentro de si mesmo. 
 
Ser feliz é parar de sentir-se vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir achar um oásis no fundo da nossa alma. É agradecer a Deus por cada manhã, pelo milagre da vida.  Ser feliz, não é ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si.
É ter coragem de ouvir um "não". É sentir-se seguro ao receber uma crítica, mesmo que injusta. É beijar os filhos, mimar os pais, viver momentos poéticos com os amigos, mesmo quando nos magoam. Ser feliz é deixar viver a criatura que vive em cada um de nós, livre, alegre e simples.  É ter maturidade para poder dizer: "errei". É ter a coragem de dizer: "perdão". É ter a sensibilidade para dizer: "eu preciso de você".  É ter a capacidade de dizer: "te amo". 
 
Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz...  Que nas suas primaveras seja amante da alegria. Que nos seus invernos seja amante da sabedoria. E que quando errar, recomece tudo do início. Pois somente assim será apaixonado pela vida. Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita.
Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Utilizar as perdas para treinar a paciência. Usar os erros para esculpir a serenidade. Utilizar a dor para lapidar a o prazer. Utilizar os obstáculos para abrir janelas de inteligência.  
 
Nunca desista....

Nunca renuncie às pessoas que lhes ama. 

Nunca renuncie à felicidade, pois a vida é um espetáculo incrível".


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Meu peixinho vermelho, meu peixinho azul

Meu peixe beta vermelho e meu peixe beta azul na verdade não são meus, são dos meus filhos. Cada um vive num aquário diferente, pois os peixes beta coloridos são macho e não se pode pôr dois machos juntos (porque se atacam).

Pois bem, cada um dos meus meninos ganhou da minha sogra um peixe, um aquário, plantinhas artificiais para decorá-los e (suponho) entreter os peixes (será?!), e cada um escolheu uma casinha para o amigo: Felipe quis um tronco de árvore com um túnel no meio e o Lucas preferiu um barquinho fofo. Aquários lindos, enfeitaram e deram vida à minha copa.

Os meninos ganharam também um potinho com a comida dos peixes que, segundo orientação do vendedor da Cobasi, deveria ser dada de manhã e à noite, "apenas quatro bolinhas para cada um". Seguiram a orientação direitinho e têm alimentado seus pets com muita responsabilidade.

A questão é que toda vez que entro em casa (entro pela copa), vejo o peixe vermelho todo animado, mexendo as nadadeiras, explorando o aquário, tenho até a impressão que ele vem até mim quando eu me aproximo dele. Come toda a comida que é jogada na água numa tacada só, e fica olhando, parece que está pedindo mais. Já o peixe azul está sempre parado, no mesmo canto, nadadeiras imóveis, não se interessa por qualquer movimento na água, nem mesmo pela comida, que muitas vezes sobra e fica lá, boiando.

É óbvio que desde que eles (os peixes) chegaram, e eu notei essa diferença, comecei a me preocupar com o peixe azul. Fico apreensiva, pensando que posso encontrá-lo morto cada vez que estou para entrar em casa. Por que raios o peixe vermelho é tão alegrinho e o azul tão borocoxô?! O vermelho é mais bonito, tem nadadeiras coloridas, mas é mais magrinho, desconfiei da saúde dele quando chegou, e não da saúde do peixe azul, mais gorducho. Mas o azul é tristonho, e agora temo por ele.

Ao mesmo tempo em que notei essa diferença de comportamento dos peixes, notei também em mim essa tendência de voltar minha atenção aos mais fracos, aos mais carentes. Acho o peixe vermelho lindo, acho muito interessante ficar observando seu movimento dentro do aquário, cima, baixo, parece às vezes enxergar o peixe azul no outro aquário e querer transpor o vidro para enfrentá-lo, fica excitado, adora sua casinha, as nadadeiras são longas, coloridas. Eu admiro o peixe vermelho. Mas o peixe vermelho está bem resolvido na sua vida aquática. Não precisa de mim. O azul parece precisar, e é com ele que me preocupo.

Eu fico pensando, meio que sonhando, se esses peixinhos estivessem no rio, o vermelho teria toda a admiração dos demais peixes, seria hábil para fugir dos predadores, acho que ele ganharia com facilidade os embates com outros peixes beta, enquanto o azul seria esquecido, deixado de lado e, logo, comido. A vida da gente é assim. Os mais fortes vivem, os mais fracos perecem. Os mais fortes têm apoio de multidões, são admirados, são imitados. Os mais fracos são ignorados. E pensar nessa realidade parte meu coração. Por isso, hoje em dia sigo muito menos as notícias do mundo; tenho preferido a ignorância. Tenho preferido não ver que quem tem mais dinheiro manda em quem tem menos, que quem tem mais influência política decide por quem não tem, que o coleguinha mais esperto determina como o mais bonzinho deve agir, que quem está no peso ideal orienta a vida de quem não está. Que fique claro: eu também me encanto com muitas histórias de sucesso financeiro, como a do Jorge Paulo Lemann, admiro algumas pessoas do meio político (não as do atual governo!), acho legal ver como algumas crianças captam o mundo adulto tão cedo, e admiro muito as atuais musas fitness, assim como adoro observar o peixe vermelho. Mas há algo em mim que me leva a olhar com muito mais carinho e atenção para quem está esquecido no outro pólo dessas relações, como acontece com o azulzinho.

Eu procuro desviar a atenção das coisas que me lembrem dessas dualidades, notícias, histórias, pessoas que vejo nas ruas. Mas o peixe azul me escancarou a vida real: a fragilidade de alguns versus a força de outros, e está sendo chato pra mim conviver com o peixe. Me conforta lembrar que eu posso estar errada, e o peixe azul pode vir a viver mais que o vermelho, mostrando para mim mesma que uma fragilidade pode ser só aparente, que o jogo pode ser virado e que as coisas podem ser diferentes do que parecem ser. Mas vou ter que esperar o ciclo de vida deles para ver.



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Medo

Eu venci meu medo. Faz quatro anos que quero marcar no meu corpo as iniciais dos meus filhos: F e L, mas não tinha, até agora, conseguido coragem para ir em frente. Também não tinha até agora questionado a mim mesma o que me segurava. Eu já tinha sim, por diversas vezes, me perguntado porque eu queria fazer a tatuagem, e a resposta era fácil: meus meninos passaram a ser o sentido da minha vida desde que soube que carregava cada um dentro de mim. A vinda deles me abriu os olhos e o coração para tanta coisa boa, é tanto amor, gratidão pela vida, que acho natural o desejo de gravar suas iniciais comigo, como um símbolo mesmo, um ritual meu. Mas o que me impedia de concretizar esse desejo era obscuro para mim até poucos dias, quando finalmente descobri que se tratava de medo.

Nunca fui de ter medo do que as pessoas pensam de mim, nunca dei importância para a opinião dos outros (talvez poucas vezes), mas definitivamente não era esse medo que me segurava nesse caso. Qual era então?
 
Nas diversas ocasiões em que senti medo de verdade quando adulta, muitas vezes nos momentos em que tive de fazer escolhas, pensava demais nos "e se"s da vida, ia longe mesmo, ia no extremo, "e se eu mudar de país", "e se a profissão que eu quero não der certo", "e se eu tiver que lidar com um problema sério de um filho", "e se meu pai morrer", e por aí ia... Bom, tudo isso efetivamente aconteceu, e eu estou aqui, feliz, me sentindo melhor do que sempre. 

O medo que eu sentia nas ocasiões em que tinha de fazer escolhas roubavam muito da minha energia, pois dominavam minha mente e eu não conseguia direcioná-los, ou seja, passar por eles, ir em frente mesmo com medo, OU decidir, vez por todas, que, naquele caso, o medo tinha fundamento, e seria melhor não prosseguir (nesse caso, o medo teria cumprido seu papel: alertar diante de um perigo real). Já faz um tempo que descobri que a postura numa encruzilhada deve ser essa: avaliar as perdas e ganhos de cada uma das opções e optar consciente, sabendo que o ganho do caminho preterido ficou para trás. E ponto. Já faz um tempo também que percebi que nosso cérebro é criativo demais e que a vida é absolutamente imprevisível, de modo que quase nada adianta fazer suposições de acontecimentos futuros derivados de uma ou outra direção. Tudo pode acontecer de forma muito diferente do a gente imagina, ou pouco diferente, mas raramente as coisas acontecem exatamente como pensamos que seria. 

É claro que toda decisão deve ser informada. Eu mesma já agi impulsivamente muitas e muitas vezes, principalmente no começo da juventude. Agir por impulso é não avaliar as possíveis consequências dos nossos atos, e isso é péssimo; significa a possibilidade de sofrermos um efeito indesejado criado por nós mesmos. Mas o contrário é igualmente terrível: imaginar consequências inúmeras, muitas improváveis, e paralisar diante de um avalanche imaginaria de hipóteses. 

E precisamos saber que coisas ruins acontecem na nossa vida, as situações mais temidas podem sim aparecer (eu mudei de país - e fiquei longe da minha família por mais de dois anos; a profissão que eu sempre achei que queria não aconteceu; sofri muito por questões ligadas ao meu filho; e meu pai já não está mais comigo, pelo menos não fisicamente). E a gente dá SIM conta de todas essas circunstâncias, tem que dar.

Pensando nisso, resolvi prosseguir e escrever meus meninos em mim; não vi efeitos horrendos, e acho que posso lidar com as consequências que vi. Agora, onde quer que eu esteja, estou com meus amores no coração, no pensamento e na minha perna esquerda.







quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Preguiça - pecado capital

Descobri hoje, pela minha própria experiência, porque a preguiça é um pecado capital.

Sempre acreditei que a Igreja descreveu os sete pecados capitais (preguiça, ira, inveja, avareza, luxúria, soberba, gula) com base naquilo que faz o homem infeliz. A raiva que sentimos de alguém, por exemplo, tenha certeza absoluta, faz muito mais mal a quem sente do que ao objeto da raiva; quem cultiva o sentimento se desgasta, se cansa, desperdiça energia. 

Meus dias são sempre agitados, e não me considero uma pessoa preguiçosa, não posso ser. Mas existem dias em que parece que a inércia do repouso vai falar mais alto, e nossa mente começa a produzir desculpas em série para deixar de fazermos o que tem de ser feito. É claro que muitas vezes precisamos nos permitir um descanso (a vida hoje em dia é puxada para todo mundo), mas na maior parte das vezes, o cansaço é apenas mais uma desculpa para deixar a preguiça dominar.

Descobri que a malvada foi elevada à categoria máxima de pecado capital porque impede a gente de fazer conquistas e, assim, reforçar nossa autoconfiança, autoestima e senso de realização. Uma vez vencida e cumprida determinada tarefa, segue-se, geralmente, a satisfação, o sentimento de plenitude, a felicidade. O mesmo acontece com a gula: se controlarmos o impulso de querer comer cada vez mais, se conseguirmos fazer prevalecer a moderação, teremos, muitas vezes, na sequência, a sensação de bem-estar, de conquista. Nada diferente com a avareza: o prazer de compartilhar, de ajudar ao próximo, normalmente é muito maior do que o prazer de possuir; as pessoas menos egoístas aparentam ser mais plenas, viver mais tranquilas, do que as mais individualistas. E, segundo tem-se comentado por aí, parece que nascemos para ser felizes. Confere?

Hoje, venci a preguiça, e me senti feliz. Fiz exercício físico pela manhã (na única meia hora que consegui) e o resultado (dessa meia horinha) perdurou pelo restante do meu dia: endorfina, energia e bom humor para cumprir tarefas em três cantos diferentes da cidade acompanhada pelos meus dois moleques superenergéticos, finalizar a jornada com banho nos dois e jantar, tudo com muita paciência, até a hora de dormir (detesto perder a paciência com eles, me sinto frustrada, como se eu não tivesse dado conta do recado).

Mas já houve situações em que ter vencido a preguiça me trouxe outros ganhos, momentos deliciosos que trago guardados na minha história. Eu era o tipo de pessoa que não suportava filas, lugares com muita gente. A ideia de sair de casa num sábado e ir me divertir num lugar animado, mas cheio, me dava, só de pensar, uma preguiça enorme. Com a chegada dos meus pequenos e na medida em que eles foram crescendo, fui obrigada a enfrentar esse tipo de desafio, já que muitos dos programas infantis em São Paulo são lugares lotados, principalmente nos finais de semana. Pois se eu não tivesse vencido, se tivesse delegado a alguém a tarefa de levá-los para conhecer o zoológico (um exemplo) não teria na minha lembrança a carinha de cada um deles admirando aqueles animais tão diferentes pela primeira vez. 

Para melhorar a qualidade das nossas vidas, precisamos levantar, fazer, realizar, ir, explicar, conversar, entender, ouvir (pode ser uma tarefa passiva também), mexer, ler, escrever, produzir, encarar, lutar, persistir, pensar o que queremos levar da vida, que vida queremos levar, quem queremos ser no fim das contas, e não nos deixarmos vencer pela vozinha do deixa-pra-ser-feliz-amanhã, conhecida como desculpa.

OBS. Vejo como preguiça aquela força que nos prende diante de uma tarefa que para nós, geralmente, é fácil ou razoavelmente fácil de realizar. Se essa tarefa é sempre e inevitavelmente difícil, aí a questão é outra; talvez você precise mudar de vida, e não é disso que falei aqui, não dessa vez ;)


 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

O Encontro Marcado

"O Encontro Marcado", de Fernando Sabino, marcou demais a minha adolescência, principalmente o trecho abaixo, extraído de uma carta de Hélio Pellegrino, que serviu de prefácio ao livro:

"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nesse época, conformar a realidade com suas mãos pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perde-lo, é contemplá-lo na sua total é gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos é teremos as mãos vazias na medidas em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Nesse momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossas vidas, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Esse é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome."

Pellegrino foi um psicanalista e escritor brasileiro, e tinha amizade com Fernando Sabino, também escritor. Eles eram amigos, mineiros, nascidos na década de 20, e ambos quiseram tratar da questão do autoconhecimento.

Quando li o livro pela primeira vez, aos 15 anos, inclusive o texto acima, gostei muito e sabia que havia nele uma mensagem para a vida. Mas eu era incapaz de compreendê-la por inteiro -- eu ainda não tinha chegado ao meio-dia da minha vida. Hoje, aos 37 anos e relendo o livro pela terceira vez, é como se a narrativa fechasse e, anos depois, ela fizesse total sentido.

O livro narra a jornada de Eduardo Marciano, um jovem que simplesmente caminhava pela vida, sempre à procura de respostas. Ele ia vivendo e fazendo escolhas com base no que fatores externos traziam para ele, e não com base no que ele mesmo julgava importante para si.

E assim é que em determinado momento da sua juventude, seus pais entendem que está muito magro, abatido, e decidem (por ele) que deve fazer natação. Então Eduardo se torna o melhor, o campeão das piscinas. Nessa época, levado por um sentimento de superioridade, ele passa a se desinteressar pelos assuntos e pelo amigo do colégio, com quem acaba por ter uma briga física e, por isso, é levado ao monsenhor, diretor da escola. Fica clara, nessa passagem, a falta de autoconsciência do personagem que, indagado pelo diretor sobre "o que queria da vida", assustou-se (num primeiro momento, achou, inclusive, que a pergunta nem era dirigida a si).

E nessa linha segue o livro do meu admirado Fernando Sabino, até que a passagem que dá nome ao livro mostra o esforço de Eduardo na busca de algo, do sentido da vida. Ele, jovem, marca com seus melhores amigos um encontro para dali a tantos anos em determinado local. Passado o tempo, Eduardo comparece, mas os demais não; estão com vidas diferentes, com seus rumos tomados, e Eduardo começa a perceber que as respostas da vida não estariam naquele encontro, frustrado, mas sim dentro dele, onde teria que esforçar-se para buscá-las, pois não, a vida não as entrega de bandeja.

De fato, tudo o que mais procuramos entender, a paz de espírito tão desejada, o equilíbrio e a aceitação do que não podemos alterar, tudo isso está dentro da gente, não vem de fora. Mas não podemos culpar o pobre do Eduardo. Acho eu que a angústia que ele sentiu a vida toda vinha do fato de que ele não reconhecia ser só. E todos nós, cada um de nós, é um ser só. Apenas no momento em que se reconhece estar por si é que é possível buscar no outro algo para incrementar nossas vidas, para enfeitar, ajudar a crescer. Mas não tem como buscar no outro o próprio ser de cada um.

Somos mesmo pobres e nus diante da vida, do todo. Mas não podemos permanecer como um enigma para nós mesmos. Se assim ficarmos, seremos um enigma para o outro também. Não devemos negar a nós mesmos, nem à humanidade, a nossa luz, o poder transformador que cada um tem. Seria egoísmo, seria retardar o progresso dos seres humanos como um todo.

É claro que o caminho da procura é cansativo, doloroso. Requer paciência, perseverança (não desistir quando parece perdido), fé (em si mesmo). Requer inclusive certa alienação do mundo fisco, me parece (eu mesma estou na busca, no começo, mantenho a fé). Mas quem disse que o mundo físico é tudo? Para mim, ao contrário, ele não é o essencial.







segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Carpe diem, com nossos filhos

Foi-se o tempo em que eu estava grávida, em que tentei amamentar, em que tive momentos de imensa insegurança. Ele chorava tanto, era difícil acalmá-lo. Eu não queria babá, nem enfermeira, achava que dava conta sozinha. 

No décimo dia de vida dele, eu estava exausta, tensa com o que ainda estava por vir, ele era bem inquieto, e eu precisava dormir. Buscamos então uma enfermeira, e achamos uma, a Zezita. Ela salvou minha vida. 

Depois foi o tempo em que ele comeu a primeira papinha (tão lindo), ficou gordinho, fez gracinhas, deu gargalhadas, engatinhou, andou.

Foi-se o tempo em que cancelamos sua festa de um ano pois eu, grávida do meu segundo filho, tive sangramento e precisei ficar de repouso. A festa seria de palhacinho... Meus pais e minha sogra tinham ido preparar toda a festa na nossa casa do interior, com antecedência. Tudo cancelado, mas cantamos parabéns pra ele numa reuniãozinha simples, em casa mesmo.

Foi também o tempo em que passei uma segunda gravidez trabalhando, uma gravidez mais tranquila do que a primeira, eu me estressava menos. 

Passou o tempo em que tive um bebê prematuro em casa, nascido com 35 semanas por rompimento da bolsa. Minha avó-segunda-mãe faleceu, a bolsa se rompeu cinco dias depois da morte dela, ou cinco semana antes da DPP (data provável do parto). 

Foi-se o tempo em que eu tive dois bebês em casa, dois para trocar fraldas. Foi-se o tempo em que um choro noturno poderia significar febre, e que eu já entrava no quartinho com o coração na mão (me tornei hoje uma pessoa de coração mais firme). Foi-se o tempo das cirurgias (amígdalas, adenoides, fimoses, todas da primeira infância, e refluxo urinário, hérnias, outras menos comuns).

Passou a fase de tirar chupeta, mamadeira, ensiná-los a comerem sozinhos. Passou o tempo de tirar fraldas. Passou o tempo de aprenderem a nadar.

Meus bebês cresceram. Estão na fase do medo de fantasma, de brincar de luta, de fazer bagunça, desmontar meu sofá da sala, nadar na piscina, fazer palhaçada. Estão fazendo descobertas. E eu descobrindo as pessoas que se tornarão, junto com eles.

Meu pequeno tinha medo de cinema até pouco tempo. Acho que era medo do escuro e do barulho, os dois ao mesmo tempo. Aos poucos, meu marido conseguiu, com jeitinho, fazê-lo entrar na sala, e ele já está no terceiro filme da telona (os pezinhos da foto são dele).

Nossos filhos crescem, e crescem depressa demais. Meu filho mais velho e meu afilhado, os dois com cinco anos, já escrevem seus nomes, e nomes de outras pessoas e, no ano que vem, certamente escreverão palavras inteiras, talvez sentenças. O meu filho mais novo também já escreve seu nome, já teve uma melhor-amiga-noiva na escola, já tem há tempo um melhor amigo. Hoje descobri que meu afilhado (de cinco anos) chora com cenas emocionantes no cinema -- pode existir coisa mais linda?!! 

Logo mais nossos meninos serão pré-adolescentes, depois adolescentes, depois moços. Meu filho mais novo terá uma falha na barba, na região do queixo: tomou seis pontos mês passado, quando caiu da cama. Será uma lembrança dos seus quatro anos, para mim, não para ele.

Parece que foi ontem que demos uma roupinha tirada do Felipe, quando ele ainda estava na maternidade, para minha cachorrinha cheirar, e já ir se acostumando com ele. Ela tem ciúme dele até hoje...

Parece que foi ontem que eu me casei já com um desejo enorme de ser mãe; eu sabia que essa seria minha maior realização. É muito amor, é um crescer junto, aprendizado constante, fortalecimento para a alma.

Um pouco da vidinha deles já passou (não na minha lembrança), e muito há por vir. Hoje, olhando para os pezinhos do meu Lucas ao meu lado, suas mãozinhas segurando o saco de balas, e não mais se agarrando a mim, me dei conta de que eles crescem, mesmo. Ele não tem mais medo de cinema. Até uns dias atrás ele não entrava.  Até uns dias atrás ele asistiu a um filme segurando na minha mão. Ele não precisa mais segurar.

Todas as fases das vidas deles passam, as boas e as ruins. O difícil passa, o lindo virá e passará, tudo num ciclo. Por isso, que nenhuma dessas etapas seja festejada em excesso, ou angustiante demais. As crianças mudam, as crianças crescem. Que consigamos aproveitar cada momento das suas vidinhas, parte das nossas próprias, o agora. Hoje foi o dia de olhar os pezinhos do meu pequeno e as lágrimas de emoção do meu afilhado. Valeu meu dia, já ficaram na minha lembrança.