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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Preguiça - pecado capital

Descobri hoje, pela minha própria experiência, porque a preguiça é um pecado capital.

Sempre acreditei que a Igreja descreveu os sete pecados capitais (preguiça, ira, inveja, avareza, luxúria, soberba, gula) com base naquilo que faz o homem infeliz. A raiva que sentimos de alguém, por exemplo, tenha certeza absoluta, faz muito mais mal a quem sente do que ao objeto da raiva; quem cultiva o sentimento se desgasta, se cansa, desperdiça energia. 

Meus dias são sempre agitados, e não me considero uma pessoa preguiçosa, não posso ser. Mas existem dias em que parece que a inércia do repouso vai falar mais alto, e nossa mente começa a produzir desculpas em série para deixar de fazermos o que tem de ser feito. É claro que muitas vezes precisamos nos permitir um descanso (a vida hoje em dia é puxada para todo mundo), mas na maior parte das vezes, o cansaço é apenas mais uma desculpa para deixar a preguiça dominar.

Descobri que a malvada foi elevada à categoria máxima de pecado capital porque impede a gente de fazer conquistas e, assim, reforçar nossa autoconfiança, autoestima e senso de realização. Uma vez vencida e cumprida determinada tarefa, segue-se, geralmente, a satisfação, o sentimento de plenitude, a felicidade. O mesmo acontece com a gula: se controlarmos o impulso de querer comer cada vez mais, se conseguirmos fazer prevalecer a moderação, teremos, muitas vezes, na sequência, a sensação de bem-estar, de conquista. Nada diferente com a avareza: o prazer de compartilhar, de ajudar ao próximo, normalmente é muito maior do que o prazer de possuir; as pessoas menos egoístas aparentam ser mais plenas, viver mais tranquilas, do que as mais individualistas. E, segundo tem-se comentado por aí, parece que nascemos para ser felizes. Confere?

Hoje, venci a preguiça, e me senti feliz. Fiz exercício físico pela manhã (na única meia hora que consegui) e o resultado (dessa meia horinha) perdurou pelo restante do meu dia: endorfina, energia e bom humor para cumprir tarefas em três cantos diferentes da cidade acompanhada pelos meus dois moleques superenergéticos, finalizar a jornada com banho nos dois e jantar, tudo com muita paciência, até a hora de dormir (detesto perder a paciência com eles, me sinto frustrada, como se eu não tivesse dado conta do recado).

Mas já houve situações em que ter vencido a preguiça me trouxe outros ganhos, momentos deliciosos que trago guardados na minha história. Eu era o tipo de pessoa que não suportava filas, lugares com muita gente. A ideia de sair de casa num sábado e ir me divertir num lugar animado, mas cheio, me dava, só de pensar, uma preguiça enorme. Com a chegada dos meus pequenos e na medida em que eles foram crescendo, fui obrigada a enfrentar esse tipo de desafio, já que muitos dos programas infantis em São Paulo são lugares lotados, principalmente nos finais de semana. Pois se eu não tivesse vencido, se tivesse delegado a alguém a tarefa de levá-los para conhecer o zoológico (um exemplo) não teria na minha lembrança a carinha de cada um deles admirando aqueles animais tão diferentes pela primeira vez. 

Para melhorar a qualidade das nossas vidas, precisamos levantar, fazer, realizar, ir, explicar, conversar, entender, ouvir (pode ser uma tarefa passiva também), mexer, ler, escrever, produzir, encarar, lutar, persistir, pensar o que queremos levar da vida, que vida queremos levar, quem queremos ser no fim das contas, e não nos deixarmos vencer pela vozinha do deixa-pra-ser-feliz-amanhã, conhecida como desculpa.

OBS. Vejo como preguiça aquela força que nos prende diante de uma tarefa que para nós, geralmente, é fácil ou razoavelmente fácil de realizar. Se essa tarefa é sempre e inevitavelmente difícil, aí a questão é outra; talvez você precise mudar de vida, e não é disso que falei aqui, não dessa vez ;)


 

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