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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Então é Natal

Desejo que todas as famílias, em todos os cantos do mundo, passem uma noite de Natal com muita paz e alegria. Que consigam desacelerar suas mentes, aquecer seus corações, lembrando o quanto nos aconchega estarmos juntos e agradecendo pela oportunidade de estarmos vivos, celebrando esta festa. Que cresça o amor em cada de um de nós!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Fim de ano

Faz tempo que eu não escrevo. Novembro foi um mês conturbado, como deve ser conturbado para muita gente, já que se aproxima o final de ano. O final de ano traz inúmeras preocupações, reflexões, intenções. São propósitos de mudar de hábitos, de realizar coisas, de buscar melhorar. É tempo de compras, e os shoppings estão lotados. A cidade intransitável. A sensação que tenho é que todos são tomados pelo espírito natalino de uma forma coletiva. É como se o espírito coletivo se agitasse e ninguém conseguisse tocar suas vidas no mesmo ritmo de outubro. É décimo terceiro que se aproxima, férias infantis que excitam pais e filhos, luzes de Natal que comovem, comércio que entra em fase promissora, pessoas felizes falando de assuntos felizes, almoços corporativos mais longos, confraternizações que lotam agendas, papais noéis de todo tipo por aí (gordo, magro, mais velho, mais novo, com óculos, sem óculos), estacionamentos com filas. E pessoas e famílias de uma diversidade espantosa circulando pelas ruas e comprando, conversando, falando, gesticulando, se comunicando, vivendo, sentindo; e eu observando como, dentro desse coletivo urbano vivo, existem individualidades tão diversas, de uma riqueza humana indescritível.

É a moça de saia amarela e blusa preta de bolinhas, cabelo cacheado, olhos pretos, bem morena, pernas fortes, que segura um menino pequeno e magro pelas mãos, andando apressada pelo shopping e fazendo um discurso fervoroso dirigido a ele, que chora. Passa por mim e eu ouço: "assim você vai ser expulso da escola!". São duas vidas, uma delas frequenta um colégio, viveu algo de importante, ouve um comentário nervoso sobre o ocorrido, passam por mim (obviamente sem ter a menor ideia de que os escuto) e continuam sua história, em algum lugar do mundo.

É o casal animado que aborda um estranho e pede uma foto (nos moldes antigos, eles não tiram uma selfie!! -- acho interessante) em frente à árvore de Natal do shopping. Eles estão felizes, sorriem felizes, abraçados, para o flash, agradecem a gentileza e vão conferir juntos, na câmera (não, não era um celular!) o resultado. Eles gostam, trocam um beijo. E suas vidas continuam por aí, na medida em que deixam o lugar rumo à garagem. Nada de moderno, eu penso, alegria por uma fotografia de Canon em frente à árvore singela -- felicidade simples, a verdadeira.

É o senhor sem cabelo, de barriga avantajada (enorme, na verdade), redonda, camisa branca meio aberta nos botões, de bolso, calça preta em pernas relativamente finas, tênis branco, que caminha devagar, sério, sozinho. Colesterol, diabetes, sangue que corre em veias, um coração que pulsa na minha frente, e surge em mim o pensamento sobre a saúde deste homem (alguém olha para ele sem, imediatamente, pensar na sua saúde??). Ele segue. Eu jamais saberei o destino deste ser humano, mas ele fez parte da minha vida, estou com ele em mente agora e, certamente, vou lembrar ainda por vezes.

É um grupo de moças que espera sua vez na fila do caixa de uma loja de chocolates; são quatro, três altas e uma bem baixinha; as três mais altas conversam animadas, riem, gesticulam; a baixinha só escuta, de cara fechada, às vezes olha para o chão, olhar perdido, olha para o moço do caixa tentando descobrir o porquê da demora da fila, não parece confortável na situação. O problema que a perturba, qual será? É uma mente a mais ali, na multidão, mas é única, porque eu gostaria de entendê-la, estudá-la, saber dela. Eu nunca vou saber, mas espero que a moça baixinha tenha uma vida boa e não desejo que esteja insatisfeita com ela.  

Quantos corações, quantas mentes passam por mim, por quantas eu passo. São tantos assuntos, tantas ideias, tantas vidas, tantos olhares, tantas almas. Todos juntos formando um só universo coletivo e, ao mesmo tempo, cada um vivendo por si, complemente só em suas individualidades. Sem dúvida se buscam, numa tentativa de se complementarem, se somarem. Mas cada um vai viver o seu Natal e a sua virada de ano com seus planos e expectativas, e quão diferentes umas das outras devem elas ser...

Viva o milagre da existência, o mistério do universo, os segredos que tentamos desvendar, os sorrisos alheios, a energia que trocamos, a realização de pequenas conquistas, os pequenos passos que levam a grandes conquistas. Viva o pessimista que aprende a ser otimista, viva a liberdade de se escolher caminhos, a responsabilidade pelas consequências e a satisfação de saber que tanto a liberdade quanto a responsabilidade é nossa. Viva o momento em que percebemos que não somos culpados pela desgraça do mundo, que não temos como ajudar quem não se ajuda, que a nossa capacidade de fazer alguém feliz tem limites, a gente querendo ou não. Viva a noção de que a vida é curta, e que a fazemos ao vivo, de que palavras não se apagam, de que temos o poder de afastar pessoas queridas e acabar com relacionamentos com nossos próprios atos, de que a toda reação corresponde uma ação prévia. Viva a diversidade e a capacidade de se conviver com ela. Viva cada momento em que saímos da zona de conforto em busca do melhor para nós mesmos. Viva o ano que se aproxima, e a chance que temos de começar tudo de novo, num novo bloco de 365 dias, para fazermos e sermos diferentes, ou para fazermos igual aquilo que deu certo. Viva também esse instante e a oportunidade de viver com calma o "aqui e o agora", a cada minuto, ao vivo, dando de nós o melhor a quem mais importa, nós mesmos. Viva a capacidade de se entender como o altruísmo pode  alimentar nossas almas. Viva o futuro, o caminho, a estrada, o processo. Por fim, viva a nossa vida e o momento em que a noção do que é a verdadeira felicidade e paz de espírito clica em cada um porque, nesse instante, estarmos por aqui, todos juntos, começa a fazer sentido.