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domingo, 14 de fevereiro de 2016

A poda nossa de cada dia

Faz mais ou menos 7 meses que fiz o jardim da minha casa. Foi tudo muito bem pensado; adorei o resultado. Acontece que pouco pensei na manutenção das plantas desde então (apenas cuidei de regar), e agora em janeiro finalmente senti a necessidade de dar um trato nas plantas. Algumas morreram até, acho que não se adaptaram. Outras parecem radiantes. E outras nitidamente precisavam de algo que eu, leiga em jardinagem, não sabia bem o que era. Talvez adubo, talvez eu estivesse errando na quantidade de água.

Liguei para o paisagista que me ajudou a escolher as espécies, e ele, numa resposta curta, disse: "precisa podar; como é que vc imagina que as folhas mais novas vão conseguir brotar se as mais feias, mais antigas, continuarem lá?!" Acredito que a resposta deve ser bem óbvia, pelo tom. Para mim, não era óbvio. Para minha mente voadora, a frase dele foi suficiente para escancarar outro aspecto bem óbvio do nosso dia-a-dia -- o que é mais velho precisa, pelas leis da natureza, sair, e dar lugar ao que é mais novo. Como que, sem a saída do mais antigo, o mais moderno não tivesse espaço para aflorar. E pensemos -- faz todo sentido. Enquanto as folhas mais velhas estiverem ali para serem alimentadas, não haverá o suficiente para alimentar o novo; talvez o novo não surja, talvez ele apareça fraco.

Triste pensar, mas também é assim com as pessoas; renovação humana no mundo, para colocar de uma forma aparentemente saudável! Mas também é assim com comportamentos, é assim com teorias.

Nem que quisermos muito, e nem que fosse fisicamente possível, seria viável novas ideias, novas atitudes, novos padrões crescerem, tomarem corpo e assumirem posições no mundo se, obrigatoriamente, tivessem de conviver com todas as outras ideias, atitudes e padrões já existentes sobre os mesmos assuntos, ao mesmo tempo. Aquilo que já perdurou por mais tempo vai saindo, ou, se insistir em ficar, vai sendo expulso, e o que é mais verdinho e suculento (como uma folha nova), ou mais cor-de-rosa (como um bebê), vai tomando lugar. É como o meu jardim -- se eu deixar como está, as folhas mais lindas vão continuar lindas, mas escondidas pelas feias; mas, de qualquer forma, no fim das contas, as mais velhas VÃO cair.  

A impressão que dá é que o mundo, o cosmos, sei lá, o universo, precisa se reinventar, renovando-se a cada dia, em todos os aspectos. Isso nos mostra que o universo é avesso ao estático, ao imutável; devemos estar abertos (e desejar) a mudança. Se é inevitável que o nosso corpo envelheça, que criemos novas formas de pensar e agir. Que tenhamos coragem de mudar nossa aparência de tempos em tempos, mudar estilos de roupas, locais que frequentamos, mudar de sintonia; que saibamos ir e voltar; quem sabe ir, e não voltar; enfim, que saibamos ser flexíveis. Para mim, hoje ficou claro que é isso que a existência quer de nós.


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