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sábado, 16 de abril de 2016

O Método

Por Phil Stutz e Barry Michels, "O Método", livro que acabo de (quase) terminar, me comprovou a tese espiritual que venho praticando nos últimos meses... Em fevereiro desse ano postei sobre A poda nossa de cada dia e, em novembro de 2015, postei sobre Preguiça- Pecado Capital, sem saber que já falava sobre a "espiritualidade do futuro", nas palavras de Barry Michels.

Por sinal, Barry Michels é psicoterapeuta, formado em Harvard e Berkeley, e Phil Stutz é psiquiatra formado pela City College de Nova York e pós-graduado pela NYU. O que os une é o fato de terem praticado por anos a psicoterapia tradicional sem ver, contudo, grandes resultados práticos em seus pacientes. Ambos sentiam que os pacientes passavam a se conhecer melhor após as sessões; porém, tinham dificuldade de colocar em prática ações necessárias para atingir um objetivo ou caminhar em uma nova direção. Foi assim que Barry Michels desenvolveu "o método" para ajudá-los; "coincidentemente"* Phil Stutz foi assistir a uma palestra de Michels, e passou a conhecer e aplicar "o método".

OBS. *digo "coincidentemente" entre aspas porque, de fato, não foi uma coincidência segundo a teoria espiritual. O universo invariavelmente nos traz energia semelhante àquela que estamos emanando. Stutz, insatisfeito com os resultados obtidos por seus pacientes, foi em busca do algo mais, e o universo o conduziu à palestra de Michels.

O método consiste, muito resumidamente, na utilização de ferramentas específicas para cinco situações diferentes: 1. sair de uma zona de conforto, 2. sair do labirinto da mágoa, 3. obter melhor desempenho em situações de ansiedade ou insegurança, 4. afastar preocupações desnecessárias ou sair do estado de negatividade, e 5. levar a vida em nova direção ou quando sentimos vontade de desistir.

Para cada uma dessas cinco situações, as ferramentas são:

1. para sair da zona de conforto, a técnica é a da Inversão do Desejo, que consiste em converter o desejo de permanecer num estado de inércia em desejo de aceitar a dor. Deve-se invocar a dor e declarar seu amor por ela, pois ela gera libertação. O que está por trás dessa técnica é que, uma vez ultrapassada a dor que nos impede de sair da zona de conforto, encontra-se um mundo de infinitas possibilidades. Ao utilizar-nos da Inversão do Desejo, vivenciamos a força superior que nos move, a Força Propulsora. Pode-se lançar mão dessa técnica em situações em que o medo nos impede de agir, ao invés da dor.

2. para sair do labirinto do ressentimento, a técnica é a do Amor Ativo, que consiste em concentrar-se na pessoa que gerou a raiva ("concentração"), enviar todo o amor que existe em seu peito para essa pessoa ("transmissão"), seguir o amor até a pessoa e senti-lo entrar nela ("penetração"). A força superior que nos move ao utilizar-nos do Amor Ativo é a Entrega, que corresponde à força infinita que permite nossa doação ao mundo, fazendo-nos sentir que não precisamos de nada da pessoa que nos ofendeu.

3. para obter melhor desempenho em situações de ansiedade ou insegurança, deve-se usar a ferramenta da Autoridade Interior. Para empregar a Autoridade Interior, devemos imaginar nossa sombra (a sombra é a personificação de todos os nossos traços negativos), conectar-nos com ela e ordenar que a plateia nos escute (a plateia não necessariamente significa um conjunto de pessoas que nos assiste; pode significar uma única pessoa que nos intimida). Ao empregarmos essa técnica, sentimos a Força da Autoexpressão, que nada mais é que a linguagem universal do coração.

4. para afastar preocupações ou sair do estado de negatividade, deve-se usar a técnica do Fluxo do Agradecimento, que consiste em pensar em cinco itens pelos quais nos sentimos gratos por 30 segundos; ao final dos 30 segundos, nosso coração continua a gerar gratidão automaticamente. Cada vez que formos usar a ferramenta, devemos pensar em cinco itens diferentes. Com isso, conseguimos contato com a Fonte. A Fonte é o poder de generosidade, que vem do universo. O universo, ao contrário do que nos parece, ESTÁ interessado em nosso bem-estar. Os eventos negativos que vivemos parecem contrariar esse entendimento mas, na verdade, eles são o universo contando para o nosso ego que não, nós não podemos controlar o cosmos. A força superior vivida ao usarmos a técnica é a Gratidão, que gera paz de espírito. 

5. para mudar a direção de nossas vida ou não desistir, há a técnica do Risco. A técnica do Risco nos faz evitar um futuro indesejado (permanecendo na mesma situação de vida em que estamos ou deixando de agir par alcançar um objetivo). Ela consiste em nos imaginar no leito de morte, olhando para trás e nos dando conta do tempo perdido. A ferramenta se baseia em nosso senso de urgência: quando consegue visualizar de antemão o tempo reduzido que temos para realizar uma determinada atividade, o ser humano tende a apressar-se par aagir, ao passo que entender o tempo como ilimitado o paralisa. É a Força de Vontade que surge ao empregarmos essa técnica.

Agora, de onde vem a FÉ nas forças superiores?? Os autores do livros, ambos, vivenciaram situações em que sentiram essa força em si; portanto, aprenderam a fé com a VIDA. Mas, segundo eles, não é uma fé cega. Baseia-se em padrões que podemos ver, de fato, no mundo espiritual, e esses padrões forneceram os pilares para uma nova espiritualidade. Ainda falta o último capítulo do livro para eu terminá-lo, o capítulo que fala dos pilares. Venho contar deles aqui assim que os descobrir com mais detalhes, mas passando os olhos (não me aguentei de curiosidade), os pilares da nova espiritualidade são:

1. Pensar nas forças superiores é inútil; é preciso vivenciá-las.

2. Em se tratando de realidade espiritual, cada um de nós é sua própria autoridade.

3. Problemas pessoais sim, impulsionam a evolução do indivíduo.

Fiquei feliz por ter visto que alguém no mundo (duas pessoas muito bem conceituadas, por sinal) já notou, assim como eu, essa "religião espiritual" que eu tanto busquei e achei há pouco tempo na minha vida (e sobre a qual já escrevi aqui e aqui).

Tentem colocar em prática essas técnicas, com calma e com vontade. É incrível o efeito que geram em nós.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Uma forma de entrar na vida de outras pessoas

Pelo Facebook, minha mãe recebeu uma mensagem de uma moça que dizia lembrar-se dela aos seis anos, quando minha mãe "fazia as mais lindas e maiores pontas de lápis de cor" (!!!). Até agora, minha mãe não tinha ideia de que se dedicara a caprichar em pontas de lápis de cor aos seis anos. Na verdade, pode ser que ela nem tenha se dedicado tanto, mas as tais pontas ficaram na memória da moça por todo esse tempo. Parei pra pensar na repercussão de nossos atos, na capacidade que temos de criar lembranças indeléveis para outras pessoas por meio de atitudes para nós insignificantes. E na possibilidade de termos lembranças de outras pessoas devido a um gesto, um olhar, uma palavra que, para elas, podem ter sido apenas um gesto ou um olhar inconsciente ou uma palavra dita por acaso.

Lembro de um episódio, eu devia ter uns seis anos também... Uma colega de colégio mais velha, durante o recreio, pediu para ver minha pasta de papeis de carta que, por algum motivo, eu levara à escola. Neguei. Ela puxou meu cabelo (lembro bem: eu tinha cabelo comprido; foi na ponta logo abaixo do meu ombro direito!). Me lembro do que senti: indignação. Eu devieria ter, ao menos, dito alguma coisa. Mas nada fiz. E deveria ter feito. Talvez por isso (o sentimento de indignação) eu tenha gravado esse evento até hoje. Mas existem enormes chances dessa menina ter sido uma boa menina, e ter se tornado uma boa mulher.  E fato: eu não levo mais desaforo pra casa.

Eu me lembro da minha primeira grande amiga, a Jacqueline. Ela era carioca, e nos conhecemos no pré-primário. Fomos melhores amigas por um bom tempo até que ela voltou a morar no Rio de Janeiro. Nos comunicamos por carta durante um tempo, mas as cartas foram rareando e a amizade acabou. Sei que foi esse episódio que me ensinou a lição: manter uma amizade depende de atitudes; uma amizade não se mantém na inércia das partes. E foi na casa da Jacqueline que eu tive a sensação do que é ter um irmão (sou filha única). Adorei ter brincado com o irmãozinho dela numa tarde, e tenho o Nicolau na lembrança até hoje; mas tenho certeza de que ele não tem noção disso. Assim como a Lilian, que trabalhou na casa da minha mãe quando eu tinha uns nove anos, não deve saber quantas vezes me recordo das nossas sessões de costura (ela, que dormia em casa, pacientemente, deixava de ver sua novela da noite para costurarmos roupinhas para minhas Barbies -- minha mãe providenciava os tecidos).  Aliás, onde estará a Lilian?!... Lembrará a Lilian dessas noites adoráveis?! Talvez se forçar sua memória, mas creio que não assim como é para mim um lembrança tão espontânea...

Esses são alguns momentos de que me lembro, e que por certo deixaram lições e crenças para a minha vida. Mas há também lições que tomamos e levamos para a vida e que vêm de situações das quais não nos lembramos mais, mas que tiveram, por certo, a participação de pessoas que passaram pela nossa história (e que nunca terão a mais breve ideia de que deixaram marcas em nós, muitas vezes para sempre).

Seja por uma lembrança gostosa ou ruim, ou por uma lembrança que deixou um ensinamento, ou por um ensinamento puro e simples que levamos conosco: há sempre um outro ser humano envolvido, e dessa forma, ele terá deixado um pouquinho de si para nós. É assim que minha mãe viveu por anos na colega, e é assim que minha colega de escola, a Jacqueline, o Nicolau e a Lilian vivem em mim.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

O querida de hoje


Hoje, como em toda segunda-feira, fui levar meu filho mais velho à terapia. Como sempre, deixei o caro em um estacionamento próximo, pois nunca há vaga livre na redondeza.

Até hoje, eu detestava que estranhos me tratassem por "querida". Mas quando o manobrista (que conheço há alguns meses mas não deixa de ser um estranho) me disse "boa tarde, querida", eu gostei. Gostei porque vi simpatia nele. Notei que o intuito era receber a mim e ao meu filho da melhor forma. Meu filho adora o Mingau, o gatinho branco que mora no estacionamento. Eram dois gatinhos, mas um morreu atropelado um pouco antes de chegarmos lá numa segunda-feira do mês passado, e meu filho ficou arrasado. "A mulher não viu que ele estava embaixo do carro quando deu ré". Meu pequeno ficou inconsolável, chorou, e me encheu de perguntas ("o que o gato quis fazer embaixo do carro?" "saiu sangue?" "o Mingau ficou triste?" etc etc). Ele também me perguntou se o manobrista morava lá. Faz sentido, porque dentro do estacionamento fica uma espécie de casinha (um cômodo) com cama, criado-mudo, um armário, TV, fogão, pia, prateleira com mantimentos. Tem até tapete, um quadrinho na parede. Eu não soube responder. Insatisfeito, perguntou ao manobrista (corei!), e obteve resposta afirmativa. Agora, toda segunda-feira ele convida meu filho para entrar em sua casa e fazer carinho no gato. Ele nos convida à sua casa.

Não se passam mais de cinco minutos em cada segunda-feira enquanto eu e meu filho convivemos com o manobrista e o gato (e mais um ou dois senhores que, sentados em cadeiras velhas na calçada em frente à porta da casinha, me lembram muito cenas do século passado). Mas os instantes de acolhida pelo manobrista e sua turma vividos até hoje foram suficientes para me fazer apreciar um querida de sua parte.

É óbvio que um querida dito automaticamente, ou com frieza ou, pior, por alguém que eu sei que não me quer, não significa nada. Talvez eu continue detestando esse tipo de querida. Mas o do manobrista foi sincero.

Tudo depende do modo como se diz, do contexto, da intenção, e do que a gente entende subliminarmente, ou seja, do que não se diz, mas se percebe. O que é essência vem daí, dos sentidos, da intuição, do coração. Precisamos estar dispostos à troca, a permitir que exista contato com o que há de sublime no outro. Assim é possível extrair o mais importante da vida. Hoje eu vi muito além da palavra, e gostei do que vi.