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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A forma como vemos o mundo

Sabemos que nossa visão de mundo mais intrínseca é formada na infância, influenciada pelo ambiente em que vivemos, por nossa família, pelas outras pessoas com quem convivemos e, claro, pelas conclusões que cada um, então criança, tirou para si e tomou como verdade.

Assim é que, aqui em casa, sou a mãe que trabalha enquanto meus pequenos estão na escola em período integral, cuidando e vivendo com eles nas demais horas do meu dia; e meu marido é o pai que trabalha dia e noite, e se dedica integralmente a eles no tempo que lhe sobra.

Assim é que temos conversado muito aqui em casa sobre a possibilidade de mais um irmãozinho para meus meninos, temos conversado sobre o período de gravidez e tenho respondido diversas perguntas sobre nascimento de bebês.

Assim é que, nas últimas semanas, meu marido tem chegado de madrugada do trabalho e não tem tido a chance de dar o beijo de boa noite antes deles irem para a cama.

Assim é que, ontem de manhã, logo após acordar meus filhos às 6:30 para ir à escola, escuto o seguinte diálogo entre meu filho de 5 anos (Lucas) e meu outro filho, de 6 (Felipe):

Lucas: "Fe, ainda bem que a gente é menino, né Fe?! Senão a gente ia ter q cortar nossa barriga pra ter um bebê!"

Felipe: "Que nada, Lucas! É ruim sermos meninos: vamos ter que trabalhar!"

Ok, obrigada meninos! Já me deram uma bela dica de como vêem sua família, que conclusão cada um tirou e como serão suas visões de mundo no futuro! 


terça-feira, 4 de outubro de 2016

A Raiva

Meu filho hoje trouxe para casa "A Raiva", de Blandina Franco e José Carlos Lollo. Um livro infantil. Mas poderia ser lido sem ser compreendido por um adulto.

A raiva era um pontinho vermelho à toa, perdido no nada, pequeno, que se alimentava dela mesma.



 Com o tempo, passou a se alimentar de outras coisas. Um olhar meio de lado, uma imagem distorcida. Até que tudo, tudo mesmo, alimentava aquela raiva. Pessoas dançando, um casal apaixonado.



 E ela foi crescendo muito. Nada adiantava para contê-la, porque ela é surda e cega, burra e só pensa nela mesma. Virou ira, explodiu. 

Coube, ao fim, ao bom senso, um homenzinho azul, arrumar aquela bagunça. 


sábado, 16 de abril de 2016

O Método

Por Phil Stutz e Barry Michels, "O Método", livro que acabo de (quase) terminar, me comprovou a tese espiritual que venho praticando nos últimos meses... Em fevereiro desse ano postei sobre A poda nossa de cada dia e, em novembro de 2015, postei sobre Preguiça- Pecado Capital, sem saber que já falava sobre a "espiritualidade do futuro", nas palavras de Barry Michels.

Por sinal, Barry Michels é psicoterapeuta, formado em Harvard e Berkeley, e Phil Stutz é psiquiatra formado pela City College de Nova York e pós-graduado pela NYU. O que os une é o fato de terem praticado por anos a psicoterapia tradicional sem ver, contudo, grandes resultados práticos em seus pacientes. Ambos sentiam que os pacientes passavam a se conhecer melhor após as sessões; porém, tinham dificuldade de colocar em prática ações necessárias para atingir um objetivo ou caminhar em uma nova direção. Foi assim que Barry Michels desenvolveu "o método" para ajudá-los; "coincidentemente"* Phil Stutz foi assistir a uma palestra de Michels, e passou a conhecer e aplicar "o método".

OBS. *digo "coincidentemente" entre aspas porque, de fato, não foi uma coincidência segundo a teoria espiritual. O universo invariavelmente nos traz energia semelhante àquela que estamos emanando. Stutz, insatisfeito com os resultados obtidos por seus pacientes, foi em busca do algo mais, e o universo o conduziu à palestra de Michels.

O método consiste, muito resumidamente, na utilização de ferramentas específicas para cinco situações diferentes: 1. sair de uma zona de conforto, 2. sair do labirinto da mágoa, 3. obter melhor desempenho em situações de ansiedade ou insegurança, 4. afastar preocupações desnecessárias ou sair do estado de negatividade, e 5. levar a vida em nova direção ou quando sentimos vontade de desistir.

Para cada uma dessas cinco situações, as ferramentas são:

1. para sair da zona de conforto, a técnica é a da Inversão do Desejo, que consiste em converter o desejo de permanecer num estado de inércia em desejo de aceitar a dor. Deve-se invocar a dor e declarar seu amor por ela, pois ela gera libertação. O que está por trás dessa técnica é que, uma vez ultrapassada a dor que nos impede de sair da zona de conforto, encontra-se um mundo de infinitas possibilidades. Ao utilizar-nos da Inversão do Desejo, vivenciamos a força superior que nos move, a Força Propulsora. Pode-se lançar mão dessa técnica em situações em que o medo nos impede de agir, ao invés da dor.

2. para sair do labirinto do ressentimento, a técnica é a do Amor Ativo, que consiste em concentrar-se na pessoa que gerou a raiva ("concentração"), enviar todo o amor que existe em seu peito para essa pessoa ("transmissão"), seguir o amor até a pessoa e senti-lo entrar nela ("penetração"). A força superior que nos move ao utilizar-nos do Amor Ativo é a Entrega, que corresponde à força infinita que permite nossa doação ao mundo, fazendo-nos sentir que não precisamos de nada da pessoa que nos ofendeu.

3. para obter melhor desempenho em situações de ansiedade ou insegurança, deve-se usar a ferramenta da Autoridade Interior. Para empregar a Autoridade Interior, devemos imaginar nossa sombra (a sombra é a personificação de todos os nossos traços negativos), conectar-nos com ela e ordenar que a plateia nos escute (a plateia não necessariamente significa um conjunto de pessoas que nos assiste; pode significar uma única pessoa que nos intimida). Ao empregarmos essa técnica, sentimos a Força da Autoexpressão, que nada mais é que a linguagem universal do coração.

4. para afastar preocupações ou sair do estado de negatividade, deve-se usar a técnica do Fluxo do Agradecimento, que consiste em pensar em cinco itens pelos quais nos sentimos gratos por 30 segundos; ao final dos 30 segundos, nosso coração continua a gerar gratidão automaticamente. Cada vez que formos usar a ferramenta, devemos pensar em cinco itens diferentes. Com isso, conseguimos contato com a Fonte. A Fonte é o poder de generosidade, que vem do universo. O universo, ao contrário do que nos parece, ESTÁ interessado em nosso bem-estar. Os eventos negativos que vivemos parecem contrariar esse entendimento mas, na verdade, eles são o universo contando para o nosso ego que não, nós não podemos controlar o cosmos. A força superior vivida ao usarmos a técnica é a Gratidão, que gera paz de espírito. 

5. para mudar a direção de nossas vida ou não desistir, há a técnica do Risco. A técnica do Risco nos faz evitar um futuro indesejado (permanecendo na mesma situação de vida em que estamos ou deixando de agir par alcançar um objetivo). Ela consiste em nos imaginar no leito de morte, olhando para trás e nos dando conta do tempo perdido. A ferramenta se baseia em nosso senso de urgência: quando consegue visualizar de antemão o tempo reduzido que temos para realizar uma determinada atividade, o ser humano tende a apressar-se par aagir, ao passo que entender o tempo como ilimitado o paralisa. É a Força de Vontade que surge ao empregarmos essa técnica.

Agora, de onde vem a FÉ nas forças superiores?? Os autores do livros, ambos, vivenciaram situações em que sentiram essa força em si; portanto, aprenderam a fé com a VIDA. Mas, segundo eles, não é uma fé cega. Baseia-se em padrões que podemos ver, de fato, no mundo espiritual, e esses padrões forneceram os pilares para uma nova espiritualidade. Ainda falta o último capítulo do livro para eu terminá-lo, o capítulo que fala dos pilares. Venho contar deles aqui assim que os descobrir com mais detalhes, mas passando os olhos (não me aguentei de curiosidade), os pilares da nova espiritualidade são:

1. Pensar nas forças superiores é inútil; é preciso vivenciá-las.

2. Em se tratando de realidade espiritual, cada um de nós é sua própria autoridade.

3. Problemas pessoais sim, impulsionam a evolução do indivíduo.

Fiquei feliz por ter visto que alguém no mundo (duas pessoas muito bem conceituadas, por sinal) já notou, assim como eu, essa "religião espiritual" que eu tanto busquei e achei há pouco tempo na minha vida (e sobre a qual já escrevi aqui e aqui).

Tentem colocar em prática essas técnicas, com calma e com vontade. É incrível o efeito que geram em nós.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Uma forma de entrar na vida de outras pessoas

Pelo Facebook, minha mãe recebeu uma mensagem de uma moça que dizia lembrar-se dela aos seis anos, quando minha mãe "fazia as mais lindas e maiores pontas de lápis de cor" (!!!). Até agora, minha mãe não tinha ideia de que se dedicara a caprichar em pontas de lápis de cor aos seis anos. Na verdade, pode ser que ela nem tenha se dedicado tanto, mas as tais pontas ficaram na memória da moça por todo esse tempo. Parei pra pensar na repercussão de nossos atos, na capacidade que temos de criar lembranças indeléveis para outras pessoas por meio de atitudes para nós insignificantes. E na possibilidade de termos lembranças de outras pessoas devido a um gesto, um olhar, uma palavra que, para elas, podem ter sido apenas um gesto ou um olhar inconsciente ou uma palavra dita por acaso.

Lembro de um episódio, eu devia ter uns seis anos também... Uma colega de colégio mais velha, durante o recreio, pediu para ver minha pasta de papeis de carta que, por algum motivo, eu levara à escola. Neguei. Ela puxou meu cabelo (lembro bem: eu tinha cabelo comprido; foi na ponta logo abaixo do meu ombro direito!). Me lembro do que senti: indignação. Eu devieria ter, ao menos, dito alguma coisa. Mas nada fiz. E deveria ter feito. Talvez por isso (o sentimento de indignação) eu tenha gravado esse evento até hoje. Mas existem enormes chances dessa menina ter sido uma boa menina, e ter se tornado uma boa mulher.  E fato: eu não levo mais desaforo pra casa.

Eu me lembro da minha primeira grande amiga, a Jacqueline. Ela era carioca, e nos conhecemos no pré-primário. Fomos melhores amigas por um bom tempo até que ela voltou a morar no Rio de Janeiro. Nos comunicamos por carta durante um tempo, mas as cartas foram rareando e a amizade acabou. Sei que foi esse episódio que me ensinou a lição: manter uma amizade depende de atitudes; uma amizade não se mantém na inércia das partes. E foi na casa da Jacqueline que eu tive a sensação do que é ter um irmão (sou filha única). Adorei ter brincado com o irmãozinho dela numa tarde, e tenho o Nicolau na lembrança até hoje; mas tenho certeza de que ele não tem noção disso. Assim como a Lilian, que trabalhou na casa da minha mãe quando eu tinha uns nove anos, não deve saber quantas vezes me recordo das nossas sessões de costura (ela, que dormia em casa, pacientemente, deixava de ver sua novela da noite para costurarmos roupinhas para minhas Barbies -- minha mãe providenciava os tecidos).  Aliás, onde estará a Lilian?!... Lembrará a Lilian dessas noites adoráveis?! Talvez se forçar sua memória, mas creio que não assim como é para mim um lembrança tão espontânea...

Esses são alguns momentos de que me lembro, e que por certo deixaram lições e crenças para a minha vida. Mas há também lições que tomamos e levamos para a vida e que vêm de situações das quais não nos lembramos mais, mas que tiveram, por certo, a participação de pessoas que passaram pela nossa história (e que nunca terão a mais breve ideia de que deixaram marcas em nós, muitas vezes para sempre).

Seja por uma lembrança gostosa ou ruim, ou por uma lembrança que deixou um ensinamento, ou por um ensinamento puro e simples que levamos conosco: há sempre um outro ser humano envolvido, e dessa forma, ele terá deixado um pouquinho de si para nós. É assim que minha mãe viveu por anos na colega, e é assim que minha colega de escola, a Jacqueline, o Nicolau e a Lilian vivem em mim.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

O querida de hoje


Hoje, como em toda segunda-feira, fui levar meu filho mais velho à terapia. Como sempre, deixei o caro em um estacionamento próximo, pois nunca há vaga livre na redondeza.

Até hoje, eu detestava que estranhos me tratassem por "querida". Mas quando o manobrista (que conheço há alguns meses mas não deixa de ser um estranho) me disse "boa tarde, querida", eu gostei. Gostei porque vi simpatia nele. Notei que o intuito era receber a mim e ao meu filho da melhor forma. Meu filho adora o Mingau, o gatinho branco que mora no estacionamento. Eram dois gatinhos, mas um morreu atropelado um pouco antes de chegarmos lá numa segunda-feira do mês passado, e meu filho ficou arrasado. "A mulher não viu que ele estava embaixo do carro quando deu ré". Meu pequeno ficou inconsolável, chorou, e me encheu de perguntas ("o que o gato quis fazer embaixo do carro?" "saiu sangue?" "o Mingau ficou triste?" etc etc). Ele também me perguntou se o manobrista morava lá. Faz sentido, porque dentro do estacionamento fica uma espécie de casinha (um cômodo) com cama, criado-mudo, um armário, TV, fogão, pia, prateleira com mantimentos. Tem até tapete, um quadrinho na parede. Eu não soube responder. Insatisfeito, perguntou ao manobrista (corei!), e obteve resposta afirmativa. Agora, toda segunda-feira ele convida meu filho para entrar em sua casa e fazer carinho no gato. Ele nos convida à sua casa.

Não se passam mais de cinco minutos em cada segunda-feira enquanto eu e meu filho convivemos com o manobrista e o gato (e mais um ou dois senhores que, sentados em cadeiras velhas na calçada em frente à porta da casinha, me lembram muito cenas do século passado). Mas os instantes de acolhida pelo manobrista e sua turma vividos até hoje foram suficientes para me fazer apreciar um querida de sua parte.

É óbvio que um querida dito automaticamente, ou com frieza ou, pior, por alguém que eu sei que não me quer, não significa nada. Talvez eu continue detestando esse tipo de querida. Mas o do manobrista foi sincero.

Tudo depende do modo como se diz, do contexto, da intenção, e do que a gente entende subliminarmente, ou seja, do que não se diz, mas se percebe. O que é essência vem daí, dos sentidos, da intuição, do coração. Precisamos estar dispostos à troca, a permitir que exista contato com o que há de sublime no outro. Assim é possível extrair o mais importante da vida. Hoje eu vi muito além da palavra, e gostei do que vi. 

quarta-feira, 30 de março de 2016

Ordem de nascimento e personalidade

Karl Konig, um renomado médico que viveu entre 1902 e 1966, muito conhecido por seu trabalho com adultos e crianças deficientes, escreveu sobre as influências que a ordem de nascimento exercem em nosso modo de vida, especialmente em nosso comportamento social. O autor faz estas observações com base em sua experiência com seres humanos e em seus próprios estudos.

Particularmente, achei as descrições dos filhos únicos, primeiros, segundos e terceiros filhos extremamente apropriadas. (As descrições do comportamento do primeiro, segundo e terceiro filhos equivalem ao quarto, quinto e sexto filhos respectivamente, ou ao sétimo, oitavo e nono respectivamente, ou ao décimo, décimo primeiro e décimo segundo, e assim por diante).

Dito isto, segue abaixo, resumidamente, a análise do autor sobre a visão de mundo de cada um dos seguintes indivíduos com base em sua ordem de nascimento:

FILHO ÚNICO:

O filho único encontra-se na soleira da porta: não está dentro nem fora. Atrás dele está o abrigo do seu ninho; à sua frente, a glória do mundo. Ele é tanto incapaz de aproveitar o calor de seu ninho como de ousar mergulhar no descompromisso da vida.

Ao redor do filho único, o mundo é alheio a si, porém conhecido. Ele pode observar e até estar presente nas atividades da vida, mas não pode efetivamente participar do mundo.

O filho único deseja estar com os outros, mas quando está, quer ficar só. Esta é a posição ambígua das emoções de um filho único - encontrar-se e estar com os outros e ao mesmo tempo abster-se de fazê-lo. A companhia de outras pessoas (que não os pais do filho único) é difícil e pesada.

Quando um filho único se torna adulto, permanece numa espécie de esplêndido isolamento. De alguma forma, ele se coloca no limiar da existência, incapaz de penetrar na plenitude da vida.

O filho único pode alcançar altas posições na vida, mas internamente será sempre um eremita, um homem que almeja o companheirismo, mas que muito raramente o alcançará.

PRIMEIRO FILHO:

Esta criança, a primeira a vir, é realmente esperada com ansiedade, e sua entrada é preparada como a entrada de um príncipe. Nenhuma outra criança pode compartilhar desta entrada triunfal na vida terrena. O segundo e o terceiro podem ser bem-vindos, mas o fato do nascimento deixou de ser uma ocasião especial como foi quando nasceu o primeiro filho.

No momento em que primeiro e segundo filho entram em contato, o choque para o segundo filho é, às vezes, até maior que para o primeiro filho. Ele pretendia vir e ligar-se a seus pais e, de repente, descobre uma terceira pessoa que já está ocupando um lugar que deveria ser seu. Aqui se desenvolvem duas atitudes bastante diferentes: o primeiro filho tem de defender o seu lugar, o segundo tem de conquistar o que está sendo defendido por outro.

O primeiro filho é um defensor: defensor da fé, da tradição, da família. Ele preserva o passado contra a investida de quaisquer ideias e ações novas. Ele tem de manter o que já foi conseguido, tem de preservar o passado, independentemente de gostar dele ou não. Seria interessante constatar quantos primogênitos estão na categoria de juízes, legisladores. Onde lei e ordem, tradição e continuidade são necessários, o primogênito tem o seu lugar. O primeiro filho é o herdeiro da coroa, da liderança da família, seja ela material ou espiritual. Todas essas tarefas e posses são depositadas em suas mãos e sobre seus ombros, pois desde a tenra infância ele foi treinado na atitude de defesa e irredutibilidade.

Ele é um elo entre os pais, de um lado, e seus irmãos, de outro. Um elo, no entanto, pode ser uma ponte ou uma barreira, como um portão, que está ora aberto, ora fechado.

Diferentemente do filho único, que é um ser solitário, o primeiro filho tem uma figura de líder. Possui um alto senso de responsabilidade e frequentemente se sentirá envolvido em muitas coisas que acontecem a seu redor. Podem também desenvolver uma grande dose de orgulho e uma atitude dominadora a fim de cumprir com as demandas de seu próprio alto senso de responsabilidade.

Muitos primogênitos tornam-se amargos e adquirem um sentimento de perda quanto têm a impressão de que pouca atenção é dada à posição que alcançaram.

Existe também um constante sentimento de culpa ligado a suas conquistas. Isto porque eles tiveram de antecipar-se diante de certas possibilidades desde sua infância. O primeiro filho tem de defender, mesmo quando gostaria de atacar; tem de cumprir mesmo quando acha errado fazê-lo. Ele representa o lento, embora firme, movimento de vanguarda na marcha do desenvolvimento da humanidade.

Há frequentemente uma tensão forte e amarga na estrutura emocional dos primogênitos. Muitos deles podem vivenciar um sentimento de impaciência para alcançar o topo da escada; esse sentimento decorre de um desejo de reformar o mundo, mas que encontra barreira na sua necessidade de preservar e defender.

Um primeiro filho raramente pode experimentar o encantamento e a beleza da infância. Desde o início é mais consciente de tudo que o cerca e de si próprio, perdendo assim a atitude natural da criança. Todos os primogênitos são a base da ponte sobre a qual todos os outros homens marcham. Essa é a tarefa especial que lhes é dada.

SEGUNDO FILHO:

A Bíblia descreve os primeiros dois irmãos da humanidade de forma característica. Caim era um 'lavrador da terra'; Abel um 'guardador de ovelhas'. A sentença que foi proferida sobre Adão quando foi expulso do Paraíso ("Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida; ela te produzirá espinhos e tu comerás e erva do campo" - Gênesis 3, 17-18), foi transferida a Caim, que herda a culpa de seu pai e tem de carregá-la ele próprio. O primogênito torna-se o portador da sentença lançada sobre seu pai. Ele tem de lavrar a terra e redimi-la por meio do trabalho de suas mãos.

Abel, pastor, é de natureza diferente. É o amigo e companheiro de seu rebanho; vive entre seus amigos e compartilha de sua vida despreocupada. Podemos retratá-lo sentado sobre o tronco de uma árvore, modelando uma flauta a partir de uma ramo e tocando uma melodia de alegria e reverência, imerso na beleza silenciosa do mundo. Seu coração e sua mente estão imersos nas maravilhas dessa Terra.

Abel, apesar de assassinado pelo irmão, permanece seu companheiro constante. Em todo segundo filho nasce um novo Abel. Ele porta internamente o anseio pelo Reino de Deus, ao qual quer voltar. Abel raramente é um lutador. É normalmente um pioneiro, um pesquisador, um poeta, um santo. Não está muito envolvido com assuntos mundanos. Gosta de viver sem fazer esforço de mais. A existência não significa exclusivamente suor e trabalho; é alegria e êxtase, experiência e sonho. Abel lida com as coisas muito mais facilmente que Caim. Seu coração ama o mundo porque este não representa uma ameaça tal como para Caim. Abel tem senso de humor e é necessário muito desapontamento para fazê-lo sentir-se mal-humorado, enquanto Caim fica facilmente perturbado e aborrecido. Caim vive sob o manto do dever; a vida para ele é uma obrigação que precisa ser honrada de todas as formas possíveis. Caim desaprova o lazer e a alegria de um dia livre ou um passeio no parque.

Todo segundo filho é dotado de forças espirituais que são suas por herança. Ele está mais próximo do Reino de Deus que qualquer pessoa sobre a Terra. Enquanto os primeiros filhos são os verdadeiros habitantes desta Terra, os segundos filhos são hóspedes. Para eles, a Terra não é senão um lugar temporário de morada.

TERCEIRO FILHO:

Existe um hiato entre o primeiro e segundo filhos, de um lado, e o terceiro filho, de outro. O primeiro e o segundo coexistem necessariamente, não importando o quão diferentes possam ser. Seus destinos estão intimamente ligados. O terceiro filho aparece como alguém de fora. Os dois primeiros começam a aceitar-se mutuamente e a partilhar suas vidas quando, subitamente, um estranho chega. Agora, um filho único faz frente a outros dois. Os dois primeiros aprenderam a conhecer um ao outro durante um tempo considerável; eles aprenderam a andar juntos. De repente, um recém-chegado se aproxima. É bastante natural que os dois primeiros se unam contra o terceiro.

Um terceiro filho pode gradualmente fazer sua entrada no círculo dos primeiros. Poderá, inclusive, fazer um grande empenho nessa tarefa e tentará, sob todas as formas, qualificar-se como um parceiro respeitável de seus antecessores. Se, no entanto, for uma criança com poucas qualidades de luta, o terceiro filho permanecerá trás e irá preferir ficar amuado do que partir para uma conquista.

Aqui nós encontramos duas atitudes fundamentais dos terceiros filhos. Eles sentem-se afastados de outras pessoas. Esta separação, no entanto, é diferente daquela encontrada nos filhos únicos, pois os filhos únicos mostram sempre um certo grau de indiferença, está acima das outras pessoas. Já a solidão do terceiro filho tem um sabor diferente. Ele suporta a dor aguda da inferioridade. A criança almeja tomar seu lugar entre os outros, já que vive sob a forte impressão de que os outros não se preocupam com a sua existência e não fazem questão de tomar conhecimento dela.

Uma boa dose de desconfiança em relação às outras pessoas cresce nos terceiros filhos. Eles sentem-se negligenciados, e suas reações podem ser de duas formas. Ou eles se retiram para o interior do seu próprio ser ou juntam suas forças e atiram-se, tentando conquistar pela força o que, de outra forma, não seria seu.

O terceiro filho tem uma natureza complexa, e podem desenvolver em muitas direções diferentes. Ele dificilmente encontrará uma vida pacífica e regular. Muitos tentam correr depressa demais na vida e acabam tombando, exaustos. Outros buscam um objetivo muito alto, mas a força não é suficiente para alcançá-lo. Há também os que sentem uma solidão tão insuportável que tomam o caminho para o interior, tornando-se pessoas muitos boas. E há os que, com sua força interior, se superam.

Na Bíblia, o terceiro filho é Set, mas nada além do nome é mencionado na Bíblia. A Lenda conta que Set, tendo compaixão por seu velho pai Adão, que sofre de uma grave doença, sai em busca dos portões do Paraíso, onde consegue entrar e recebe três sementes da Árvore da Vida. Quando seu pai morre, ele enterra as sementes juntamente com Adão e, de lá, uma árvore começa a crescer. Dessa árvore, foram feitos o bastão de Moisés, os pilares do templo se Salomão e a cruz Gólgota. Ou seja, Set trouxe o futuro da humanidade das mãos, preparou o futuro, superou seu próprio destino.
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Entendo que pode haver casos em que as descrições parecem não fazer sentido; nessas hipóteses, há que se atentar para outros diversos fatores (biológicos, ambientais etc) que, da mesma forma, são aptos a influenciar o modo de ser e viver de cada um.

De toda forma, observando os diversos exemplo que me rodeiam, achei impressionante como a descrição do autor faz sentido. E, para cada um de nós, como filhos únicos, ou como primeiros, segundos, terceiros, quartos filhos, ter conhecimento desse nosso funcionamento interno (decorrente da ordem de nascimento) ajuda, e muito, a entendermos a origem de alguns sentimentos e, assim, isolá-lo ou controlá-lo para que possamos, com maior facilidade, alcançar nossos objetivos de vida. 

sexta-feira, 18 de março de 2016

Existência em degradê

Me dei conta de que tudo, tudo, na vida tem seu tempo. De nada, nada, adianta a ansiedade, a pressa, a agitação, a aflição. É claro que a ansiedade tem sua função biológica: deixar-nos atentos aos perigos, sermos capazes de agir na hora certa. Mas é só. Ponto. Não adianta querer que as coisas se resolvam antes do tempo. Tudo, tudo, segue seu curso naturalmente, passo a passo, etapa após etapa. A natureza não dá saltos. Nem que quisermos fazê-lo artificialmente. Perceba: simplesmente, não dá para atropelar. Um dia só surge após terminada uma noite que, por sua vez, só clareia quando o sol tem a chance de lançar seus perímetros raios, mas só pela manhã, não de madrugada. O ano que vem, 2017, só chegará em nove meses. Falando em nove meses, o bebê no útero só estará totalmente pronto depois desse período; se nascer antes, algo falta em seu desenvolvimento. Um carro só prossegue no trânsito se o da frente sair do lugar: dois objetos não ocupam o mesmo espaço, nem que você buzine por horas. Um machucado não cicatriza em minutos; precisa de dias. A chuva não cai de repente num dia azul e claro; ela precisa se formar. O que somos hoje foi formado ao longo de uma vida; não nascemos como somos hoje. E nem se fale em Deus: Deus criou o mundo em sete dias! E olhe só: Ele é Deus! Prova de que o novelo se desenrola; ele não vira linha reta num passe de mágica.

Foi com base na observação de que nenhuma transformação acontece bruscamente que passei a abrir os olhos para a doutrina espírita ainda criança, quando li "Reencarnação sem Mistérios", do meu tio José Carlos de Camargo Ferraz. Nesse livro, ele nos conduz a observar essa gradual transição do estado das coisas para concluir não ser possível passarmos da vida à morte de repente; existe a passagem por uma espécie de hospital da alma, onde outros espíritos auxiliam na compreensão da passagem à nova fase (pós-morte).  

Pois bem, hoje, esperando minha vez na fila de um banco por longos minutos que quase completaram uma hora, voltei a ter essa sensação da continuidade dos eventos da existência, cada um em seu devido tempo. E essa constatação veio no exato momento em que percebi que meu cérebro já se punha a culpar o caixa lento, o excesso de idosos na fila preferencial, o Brasil e tudo o mais pela minha (longa) espera. Não. Não é culpa de nada nem ninguém. O universo é que é assim.

Diante disso, passei a aproveitar aqueles minutos para observar pessoas (algo que amo fazer), ler folhetos informativos, pensar simplesmente. Saibamos admirar o desenvolvimento da vida cada vez que somos obrigados a parar para esperar próximo passo. Consigamos substituir a pressa por sabedoria, abrir os olhos e contemplar. Contemplar a ferida aberta enquanto ela não se cura, ouvir uma boa música enquanto o trânsito não anda, ler um livro nas noites de insônia, curtir uma gestação enquanto ela não chega ao fim, aproveitar o dia lindo enquanto não chove, ou a chuva enquanto ela não passa. Enfim, curtir a vida enquanto não chega a hora de, natural e inevitavelmente, iniciarmos uma nova etapa.




terça-feira, 8 de março de 2016

segunda-feira, 7 de março de 2016

Ele se foi, mas ficou

Quando cheguei em casa ontem, meu peixinho beta azul não estava... (Na verdade, meu peixinho beta azul era do meu filho mais novo). Vazio. Um peixe... Ainda tenho o vermelho, aquele que, no início, era mais espertinho... (Na verdade, meu peixinho vermelho é do meu filho mais velho). Um peixe... Quão estranho pode ser olhar para um aquário vazio, especialmente quando ele fica ao lado de um outro, cheio. Deixaram o aquário sem água; mantiveram as pedrinhas, o barquinho por onde o peixe passava, as plantinhas artificiais. Falta só o peixe azul... Não tenho ideia da causa da sua morte. Suspeito que intoxicação por terem lavado o aquário com detergente, mas é só uma hipótese. 

Esquisito, ele era só um peixe, pequeno, frágil. Mas tinha vida, assim como nós. Nadava rápido na direção de quem se aproximava do aquário, por certo instinto de que era chegada a hora da alimentação. Era gostoso procurá-lo em meio às plantinhas, descobri-lo escondido dentro do barco. Acolhemos o peixe azul como parte da nossa família, juntamente com o vermelho. Eram dois, o parzinho. 
Com o passar do tempo, fui aprendendo a me desapegar do material, mesmo. Mas o peixe não era material, ele era vida. E me acostumei com essa vidinha azul se movendo no cantinho da minha copa.

Está sendo ruim o sentimento de perda que a morte do peixe azul me causou. Explicamos para o Lucas que peixes beta têm vida curta e ele aparentemente está bem com a informação. Mas eu, eu não estou tão bem.

Para mim, a morte do peixinho deixou um espaço em branco, como deixam todas as vidas que passam pelas nossas vidas, e se vão. O peixe vermelho permanece (bem mais sossegado, suponho, pois agitava-se de vez em quando ao notar o azul no outro aquário -- peixes beta macho atacam-se por natureza). Mas o peixe vermelho não é o azul; eles eram dois, e um se foi. É óbvio que vou esquecer do meu apego ao peixe azul daqui a um tempo. Outras memórias mais lindas e mais significativas vão ocupar o lugar do peixinho. Mas enquanto o tempo não passa, vou ter que aceitar esse vácuo, até que o vazio, aos poucos, se vá.

Esse é o ciclo: vidas que entram nas nossas vidas, deixam marcas (profundas ou superficiais) em nós e, muitas vezes, nos deixam, mas deixam lembranças e, assim, permanecem em nós, por pouco ou muito tempo, ou, conforme o caso, para sempre, enquanto durarem as nossas vidas.

Eu realmente não faço ideia do que se passa pela cabeça de um peixe beta, mas sei um pouquinho da mente humana e tenho certeza de que Saint-Exupery estava certo: "Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si. Levam um pouco de nós." O peixe azul  deixou muito de si no meu lar; e ele é apenas um simples, delicado e frágil peixe azul....



segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Lado negro da força

Tenho medo de não estar aqui amanhã. Soube sobre um tiroteio nos Jardins e outro no Morumbi. Esses foram o que eu soube; houve muitos e muitos mais em São Paulo... Um conhecido produtor de TV teve uma doença grave, e foi embora de repente, sem deixar aviso, deixando só as saudades... Eu tenho medo da dengue, do zica... Ao fazer o percurso diário casa/escola, vejo tantas casas onde pode haver focos do Aedes, vasos ou garrafas pet com água parada, locais onde carros velhos são abandonados, terrenos vazios cheios de mato -- facilmente uma pequena poça pode servir de criadouro do mosquito... Tenho medo da violência urbana, do susto de um assalto não fatal, das perguntas difíceis que meus filhos possam vir a fazer numa situação dessas; temo, ainda mais, um assalto fatal... Nem falo da política, fujo das notícias para não me angustiar.

Temo ser obrigada a sair do meu mundo otimista, um mundo que eu criei com esforço em busca de ser mais feliz a cada dia. 

Temo uma batida de carro num dia de trânsito caótico, assusto com buzinas nervosas, acho que não precisa ser assim. Entristeço com comentários maldosos, não precisa ser assim. Vejo coisas boas em cada um e em todos. Temo que a ênfase que normalmente se dá ao negativo ofusque ou acabe com o que há de positivo nas pessoas.

Não gosto de pensar como, muitas vezes, os próprios pais podem criar adultos problemáticos, problemáticos consigo mesmos, com dilemas internos, indivíduos mais tristes e mais complicados. Não sou perfeita, muito longe disso. Mas enxergo sutilezas do mundo infantil, como se ele tivesse sido preservado em mim. Hoje vejo com clareza a importância brutal da autoconfiança, do entusiasmo. Há que se permitir que as crianças cresçam em um caminho reto, no seu tempo, com permissão para avançarem (em termos de maturidade) e voltarem um pouco para trás se necessário. Crianças precisam ser crianças, sob pena de se comprometer seu futuro, talvez já um futuro próximo. Crianças precisam ser alegres; é dessa fase que, inconscientemente, vão se lembrar nos momentos desafiadores das suas vidas; o modo como viveram nessa etapa é que vai ditar como devem agir em situações conflituosas (com calma ou com agressividade, de modo racional e lógico ou por impulso, de forma otimista ou pessimista, olhando o todo ou apenas os próprios interesses, querendo construir ou destruir etc).

Detesto estar escrevendo sobre isso, sobre o ruim. Me culpo. A culpa, inimiga mortal. Tenho lutado contra ela e tenho tido sucesso. Não me lembro de terem me culpado na infância, mas quem pode ter certeza? Parte perfeita, presente de Deus: o AGORA. Hoje tenho consciência que me culpo demais, pelo mundo. Mas não temo a culpa que mora em mim; a ignoro com todas as minhas forças (do bem). Já basta. Tempo presente: nosso melhor e mais precioso ativo, não temos o direito de disperdiçá-lo; deixar para depois é um desrespeito a nós mesmos.

Há sempre duas forças opostas no meu dia-a-dia: 1. a vida que despeja informações (boas e más), minha mente que as interpreta de cara de uma determinada maneira (boa ou má), meus imprints da infância (bons e maus), meus humanos maus sentimentos (culpa, egoísmo, raiva etc) e 2. meu consciente esforço para tornar tudo isso positivo, devolver estímulo e motivação para a minha vida, afastar o que é do mal, regar o que é do bem. Luto sempre, pelo time do bem. Passou o tempo em que deixava a vida fluir, inerte; quando era assim, o lado negro da força sempre vencia. Hoje não. Entendi, de uma vez por todas, que para fazer vencer o que é bom, prazeroso, alto astral, é necessário atenção, atitude, movimento, esforço e vontade. As melhores coisas da vida, as mais singelas, os sentimentos mais gostosos, não vêm por osmose, não entram em nós pelo dom do Espírito Santo. Tem que empurrar pra fora o que é contrário a eles.

E sim, o feio está em toda parte. Pise fora de casa, verá um mendigo, sujeira na rua, obras mal (ou não) terminadas na cidade, ciclovias inúteis, céu e rio poluídos, ônibus abarrotados, com azar presenciará (ou sofrerá) um assalto, insulto, um olhar de raiva, tristeza ou mesmo inveja. Lute. Ignore, ore, ajude, conforte, aceite, se acalme, crie alternativas possíveis, faça alguma coisa na direção oposta, seja criativo. É o que tenho feito. Tenho me sentido bem, apesar de tudo.





 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Pra ficar na minha história

Não me importa quem você é. Não me importa se te conheço desde pequena ou se te conheci hoje. Nem quero saber suas origens. Tanto faz se você é meu familiar ou não. Muito menos noto a roupa que você está vestindo ou sua posição social.

O que me importa mesmo é como você me faz sentir. É por isso que vou me lembrar de você amanhã, ou afastá-lo de mim. É assim que eu sou. Se quer ficar na minha vida, precisa me fazer sentir bem. E por bem eu quero dizer mais feliz, mais animada, acolhida, mais sábia, ou de qualquer forma mais completa. Gosto de gente que me traz vida e aprendi a, sem esforço, me livrar de pessoas que me sugam energia, de uma forma ou de outra. A vida é curta. Eu quero ficar bem ou ficar melhor.  

Não precisa me amar. Precisa passar amor com o olhar, gesto, palavra, atitude, com seu jeito de ser. Pouco me importa o que você efetivamente pensa de mim, só importa que me entregue algo de positivo (apenas não se contradiga). 

Essa é a grande vantagem do passar do tempo: tudo que a gente aprende vivendo. É como se meu corpo rejeitasse  o que é do mal, nocivo. Como um tipo de alergia, meu corpo reage ao ruim e o expulsa. Não consigo mais ficar com o que me abate. Por isso, se quiser ficar na minha história, esqueça aparência, dinheiro, e nem precisa escolher a dedo o conteúdo, basta vir com o coração aberto. 





domingo, 14 de fevereiro de 2016

A poda nossa de cada dia

Faz mais ou menos 7 meses que fiz o jardim da minha casa. Foi tudo muito bem pensado; adorei o resultado. Acontece que pouco pensei na manutenção das plantas desde então (apenas cuidei de regar), e agora em janeiro finalmente senti a necessidade de dar um trato nas plantas. Algumas morreram até, acho que não se adaptaram. Outras parecem radiantes. E outras nitidamente precisavam de algo que eu, leiga em jardinagem, não sabia bem o que era. Talvez adubo, talvez eu estivesse errando na quantidade de água.

Liguei para o paisagista que me ajudou a escolher as espécies, e ele, numa resposta curta, disse: "precisa podar; como é que vc imagina que as folhas mais novas vão conseguir brotar se as mais feias, mais antigas, continuarem lá?!" Acredito que a resposta deve ser bem óbvia, pelo tom. Para mim, não era óbvio. Para minha mente voadora, a frase dele foi suficiente para escancarar outro aspecto bem óbvio do nosso dia-a-dia -- o que é mais velho precisa, pelas leis da natureza, sair, e dar lugar ao que é mais novo. Como que, sem a saída do mais antigo, o mais moderno não tivesse espaço para aflorar. E pensemos -- faz todo sentido. Enquanto as folhas mais velhas estiverem ali para serem alimentadas, não haverá o suficiente para alimentar o novo; talvez o novo não surja, talvez ele apareça fraco.

Triste pensar, mas também é assim com as pessoas; renovação humana no mundo, para colocar de uma forma aparentemente saudável! Mas também é assim com comportamentos, é assim com teorias.

Nem que quisermos muito, e nem que fosse fisicamente possível, seria viável novas ideias, novas atitudes, novos padrões crescerem, tomarem corpo e assumirem posições no mundo se, obrigatoriamente, tivessem de conviver com todas as outras ideias, atitudes e padrões já existentes sobre os mesmos assuntos, ao mesmo tempo. Aquilo que já perdurou por mais tempo vai saindo, ou, se insistir em ficar, vai sendo expulso, e o que é mais verdinho e suculento (como uma folha nova), ou mais cor-de-rosa (como um bebê), vai tomando lugar. É como o meu jardim -- se eu deixar como está, as folhas mais lindas vão continuar lindas, mas escondidas pelas feias; mas, de qualquer forma, no fim das contas, as mais velhas VÃO cair.  

A impressão que dá é que o mundo, o cosmos, sei lá, o universo, precisa se reinventar, renovando-se a cada dia, em todos os aspectos. Isso nos mostra que o universo é avesso ao estático, ao imutável; devemos estar abertos (e desejar) a mudança. Se é inevitável que o nosso corpo envelheça, que criemos novas formas de pensar e agir. Que tenhamos coragem de mudar nossa aparência de tempos em tempos, mudar estilos de roupas, locais que frequentamos, mudar de sintonia; que saibamos ir e voltar; quem sabe ir, e não voltar; enfim, que saibamos ser flexíveis. Para mim, hoje ficou claro que é isso que a existência quer de nós.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Quem tem nojo de barata?

Chego em casa à noite, cansada, casa bagunçada. Vou, sem pensar, como faço sempre, pegando um e outro objeto fora do lugar e devolvendo cada um ao seu cômodo/móvel de origem. Calor. Arranco os sapatos. Deixo a bolsa na cômoda do meu quarto. Há pequenos brinquedos espalhados ao lado da minha cama, mas deixo no criado-mudo para guardar amanhã. Um pedaço de bolacha maizena perto da porta; recolho do chão. Meu inconsciente sabe que o lixinho do escritório (pegado ao quarto) é o mais próximo. Abro a porta de correr sem pensar e dou um grito muito alto: pisei com meu pé direito numa barata!!!! Mais precisamente com meu dedinho direito que, graças à sabia mão do destino, ficou bem machucado depois de uma longa corrida na praia e está recoberto por um Band-Aid. 

Uma coisa asquerosa. Sorte que não foi longe. Parou. Deu tempo de pegar o inseticida e lançar sobre ela. Ainda estava viva. Acabei de matar com meu tênis. 

O que é esse nojo tremendo que sentimos com batatas? Ao pisar nela, senti um arrepio que começou no dedo e subiu até a barriga, como se estivesse andando em mim. E não sou de gritar. Por que gritei por pisar num inseto inofensivo? As patinhas, o movimento rápido, as asas, as antenas se mexendo, o jeito que andam pelos cantos, como que se escondendo.

Sabemos que as baratas são sujas, mas moscas também são, e não nos causam uma aflição igual. Cheguei a pesquisar e descobri que essa sensação vem de nossos ancestrais; afinal, as baratas apareciam toda vez que os caras estavam em locais inóspitos, desagradáveis. De fato, meu asco de baratas só pode estar nos meus genes, não tem outra explicação.






quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Recomeço

O Carnaval ainda não chegou, mas eu já estou com a sensação de recomeço. As férias dos meus filhos foram também as minhas férias. Não aquele tipo de férias de papo pro ar, tipo spa, relaxante, sombra e água fresca à beira da piscina. Não. Tive férias da rotina leva-e-busca da escola, afazeres domésticos, jantar-banho-cama nos meninos. Foram dois meses intensos com meus filhos, mas totalmente fora da rotina: chocolate e gordura trans permitidos, dormiram tarde, passearam e brincaram bastante. Ficamos grudados o tempo todo. Foi ótimo.

Contei aqui que fomos todos esquiar; voltamos no fim de janeiro. Na volta, os meninos quiseram passar alguns dias na praia. Levei. E cheguei hoje. Hora de recomeçar. As aulas deles só se iniciam no dia 15.2, depois da semana do carnaval! Longas férias... Mas para mim, as férias já foram suficientes. Estou com fôlego para encarar tudo de novo, recomeçar outro ciclo de atividades necessárias/saudáveis (escola, cardápio legumes e frutas, horários fixos etc etc) mais uma vez, por mais um semestre. 

Descansei muito a cabeça nesses dois meses. E fiz o que mais amo: fiquei muito tempo, e de forma muito intensa, com a minha família. Mas estou louca para dedicar tempo a mim mesma. Voltei com vontade de aprender uma língua nova, fazer um curso, aprender mais sobre o ser humano, fazer mais exercícios físicos, aproveitar mais meus talentos, gerar mais valor para o mundo.

E uma satisfação nova apareceu em mim: apesar dos meus meninos estarem ainda com seis e quatro ano (ainda são pequenos), já me sinto tendo completado uma fase da vidinha deles. Já dá pra ver 'os resultados' de um trabalho árduo e intenso dedicado à sua criação nos primeiros anos. São crianças de ouro, se tornaram tudo o que eu queria: olhares meigos, olhares felizes, sorrisos constantes, palavras doces, abraços apertados. Era isso que eu mais queria. O menor é ainda manhoso, chorão; o maior precisa aprender melhor a se comportar em público. Ainda não tomam banho sozinhos, se desconcentram, demoram 'horas'. O menor tem dificuldade de dormir sozinho; preciso ficar ao lado até ele pegar no sono. O maior ainda não tem noção de maldade, é ingênuo demais. E daí? E daí tudo isso? Estou atenta, e no processo   de ensinar, e chego lá, em cada uma dessas questões. Mas o principal, na minha mais íntima e genuína concepção: são crianças boas, felizes, e aprenderam cedo a ver a vida cor-de-rosa, cheia de momentos gostosos, sorriem com facilidade. Sentimento de missão cumprida.

Vem primeiro semestre! Vem vida.




quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

VIDAAAAAA :)

Abro agora o MSN e vejo que o ator Guilherme Karan está internado há um ano e meio devido à síndrome de Machado-Joseph, uma doença degenerativa que faz com que a pessoa perca a capacidade motora. Ele não fala e não anda... Pena... Excelente ator...

Lembrete: CARPE DIEM!!!!! Gente, NÃO DÁ pra perder um minuto das nossas vidas!!!!


Maternidade e viagem internacional

Eu sumi. Fui viajar para a Itália com meu marido e dois filhos, quatro e seis anos (o mais velho fez seis lá). Fomos levá-los para conhecer a neve, aprender a esquiar. Ninguém me falou do tamanho do perrengue...

Foi demais, os dois aprenderam a descer rapidinho, muito lindos, valeu a viagem. Eu também pude treinar mais um pouquinho; fazia tempo que eu tinha colocado uma bota de esqui nos pés; a última (e primeira) vez foi em 2005, quando moramos em NY. Também foi maravilhoso passar alguns dias grudados, nós quatro, família feliz. Estivemos ainda com amigos queridos, nota 1000, super astral, delícia.

Mas confesso que não imaginava que seria tão cansativo (fisicamente, pois para a mente foi espetacular -- pronta para enfrentar mais um ano de São Paulo). São luvas, gorros e casacos de quatro pessoas para administrar durante dias inteiros. Luvas comuns e luvas de esqui: total de oito pares. Gorros comuns e capacetes: total de oito. Roupas de baixo, roupas de cima. Botas comuns e botas de esqui: total de oito. Óculos comuns de duas pessoas e goggles de quatro: total de seis. Cachecol: desisti no meio da viagem, exceto o do Lucas, que insistiu em usar seu gorro de ninja:



o tempo todo. Fora os esquis em si na hora de ir até a estação, sendo que os meninos não conseguiam carregar os seus próprios.

Avião com criança: já tinha ido com eles para a Disney em maio de 2015, mas a viagem foi mais curta... Dessa vez, demoraram horas para dormir no vôo de ida (o mais velho estava agitadíssimo, só dormiu com Dramin, que resolvi dar no meio da viagem antes que ele acordasse todos os passageiros...). A volta consistiu em esperarmos 6 horas no aeroporto de Turim pelo vôo Turim - Madri (vôo curto, ok, de uma hora e meia), espera em Madri de duas horas e, por fim, retorno a São Paulo de dez horas. Até que eles foram bem, tadinhos, mas o vôo de dez horas fez doer meus joelhos por muitas horas após termos saído do avião (meu pequeno dormiu no meu colo, logo no início, ufa), mas minhas pernas sofreram...

Alimentação: saiu totalmente da rotina. Queriam comer fora de hora e, na hora de comer, não comiam direito. Nem nos deixavam comer direito. Meu mais velho adora fazer misturas (eca!) na mesa, Coca-Cola com sal, mostarda, etc etc, derruba talheres no chão, é um caos. A mesa fica um horror. Estou no processo (árduo) de educá-lo à mesa, mas, como todo processo de aprendizagem, exige paciência (minha e dele também...). Meu pequeno ficava exausto na hora do jantar, todos os dias.

Banho: meu marido ocupou-se dos banhos até o meio da viagem, mas deslocou o ombro direito e tive que assumir a tarefa. "Mamãe": a palavra que mais amo escutar, e escuto muito no meu dia-a-dia. Mas tive uma overdose. No fim, eu já respondia até ao chamado de outras crianças.

Apesar de tudo isso, balanço da viagem: faria tudo de novo! Para mim, tudo que envolve meus meninos e meu marido é sempre muito valioso. Mais uma história para a minha coleção de memórias. Quando fui começar meus três meses de estudo para o Bar Exam de NY (Equivalente à OAB brasileira),  percebi que, de tudo na vida, fica para a gente a lembrança daquilo que é bom; acabamos esquecendo a parte ruim, sofrida, da maioria dos acontecimentos na nossa vida. Foi pensando nisso que enfrentei três meses praticamente sem sair de um mini quarto de um miniapartamento no Upper West side, e passei no exame. E assim é, de verdade. Faz dois dias que cheguei da jornada no aeroporto de Turim, e, depois de registrar aqui a exaustão materna pela qual passei, sei que vou esquecer dessa parte desgastante, e sei que, nas minhas recordações, vão ficar apenas os flashes de momentos incríveis, do maior amor possível, lembranças de sorrisos e abraços, de união. Sei que, nas lembranças dos meus pequenos, vão ficar histórias de alegria, de segurança ao lado dos seus pais, o sentimento de aconchego da infância (no qual, hoje, eu mesma, baseada na minha história, me apego tantas vezes para simplesmente...continuar...). Se não ficarem lembranças completas, os imprints neles (significado aqui) já me satisfazem.    

Se meus filhos são minha herança para o mundo, que neles eu deixe memórias alegres, que remetam ao amor, união e paz. E todo esforço que eu tenha que fazer para isso nunca será demais.





domingo, 3 de janeiro de 2016

O que eu quero para 2016?

Pensei muito sobre quais seriam minhas resoluções de ano novo nesses últimos dias. Até agora não cheguei a uma conclusão definitiva. Na minha insônia de fim de ano (sempre tenho), que em 2015 caiu na noite de 30 para 31 de dezembro, meus pensamentos voaram. Cheguei a escrever tudo o que passou pela minha cabeça, mas a bateria do meu celular não permitiu que eu chegasse até o fim.

Adoro pensar. Na verdade, não adoro, mas penso demais, é inevitável. Em meio à minha rotina tumultuada, às voltas com meus meninos, minha casa, minhas coisas, na maior parte das vezes, minhas maiores viagens filosóficas acontecem à noite quando, eventualmente, perco o sono. Na noite de 30 para 31 de dezembro, comecei meu balanço 2015 achando que esse ano não tinha sido em nada especial: não ganhei na loteria, não tive mais um filho, não mudei de casa (muito menos de cidade ou país) não mudei radicalmente meu visual, não mudei de religião, não iniciei um trabalho (nem remunerado nem voluntário), não participei ativamente dos movimentos anticorrupção no Brasil. Mas, logo na sequência, lembrei que fiz a viagem da Disney com meus pequenos, sua primeira viagem ao exterior :))) Lembrei que estive com eles por muito tempo durante o ano todo, acompanhando seus desenvolvimentos e aproveitando suas companhias como nunca. Pude levá-los à escola, conversar com seus professores, rir com eles, dividir refeições, colocá-los na cama quase toda noite, conversar com os dois, conhecê-los melhor, saber de seus pequenos mundos, de suas ideias, ler e rezar mais com eles, olhar mais em seus olhinhos, ganhar mais beijos e abraços, conheci seus organismos e aprendi a medicá-los como eles precisavam. Deixei-me conhecer por eles, toquei seus corações como pessoa, não só como mãe. Também estive por mais tempo com a minha mãe, amiga especial, companheira para qualquer hora. Cuidei mais do meu marido, pude alimentar essa parceria, presente de Deus. Vivi poucos mas intensos momentos com minhas melhores amigas, o que já considero suficiente para ter certeza de que são as irmãs que escolhi com o coração. Conheci melhor outras pessoas, e constatei como é bom compartilhar instantes, dividir pedacinhos das nossas vida com outro alguém, prestar atenção ao que o outro tem de melhor, criar memórias e, assim, criar história. Além disso, eu tive saúde para fazer tudo isso. Fiz tudo da forma como eu quis, pois esse ano meu corpo me permitiu fazer tudo como eu quisesse.

Por fim, eu pude, tão ou mais importante quanto tudo isso, me conhecer melhor. Fui atrás do que me faz bem, busquei entender assuntos para mim obscuros, enfrentei medos banais que me travavam, descobri outras formas de ver as mesmas coisas, descobri sozinha maneiras de me sentir melhor em determinadas situações, consegui dominar emoções (ao invés de ser dominada por elas), entendi que terminar um dia feliz ou mais ou menos está quase que totalmente nas minhas mãos, confirmei que estou no caminho certo ao buscar o autoconhecimento. Não me entreguei em momentos difíceis, persisti. Segurei sozinha minhas pontas durante quase todo o tempo e recebi ajudas preciosas quando precisei. Consegui dar o melhor de mim para as pessoas que amo, e consegui, com isso, fazê-las mais felizes. Me imaginei no leito de morte arrependida pelas coisas que deixei de fazer por preguiça, e resolvi levantar para fazer; arrependida pelas pessoas que deixei de fazer sorrir, e isso me motivou a buscar mais sorrisos para recordar; arrependida pelos dias que deixei de viver, e isso me incentivou a tirar o melhor de cada minuto. Porque SIM -- a nossa vida acaba, e acaba sem aviso prévio. O planejamento da nossa vida é necessário, mas precisamos ter muito cuidado com o que deixamos para depois, porque o futuro é incerto; o que está nas nossas mãos é o agora.

Termino o ano quase que da mesma forma que terminei 2014, mas ao mesmo tempo muito melhor. E volto atrás: 2015 foi um ano espetacular. E decido que minha resolução de ano novo vai ser manter tudo como está. Eu não quero mais nada! Simmmmm! Aos 37 anos eu já tenho tudo o que sempre quis, e não é pecado. Não quero mais dinheiro, não quero mais saúde, não quero mais bens materiais, não quero amar mais. Já tenho tudo isso em quantia muito mais do que suficiente.

Talvez eu queira aprender a ser mais grata, a retribuir ao outro tudo aquilo que o universo me deu, eu tenho esse dever. E talvez eu queira aprimorar tudo que aprendi, a controlar minhas emoções naquilo que afeta a mim, a me respeitar mais. O tão cobiçado (por mim) autocontrole! Preciso e hei de concluir esse post sobre os doces com sucesso! Trabalharei nele em 2016. Quero conhecer pessoas novas, conhecer novos mundos. Mas isso é o "a mais". Manter o passo de 2015: essa é a minha resolução para 2016.